Bob Marley em gravações raras de 1973

Finalmente um disco de Bob Marley, ainda nos Wailers, que não é recauchutagem, ou caça-níquel: Bob Marley and The Wailers – The Capitol Session ’73 (Tuff Gong/Mercury Studios), aporta nesta sexta-feira, 3 de setembro às plataformas digitais, mas terá edições físicas, CD+DVD, CD, e álbum duplo em vinil, nas cores vermelho, amarelo e verde (esta disponível apenas no site https://thesoundofvinyl.com/).

Não é registro de show. É uma rara filmagem do grupo no estúdio, em sessões, gravando para um hipotético disco que só agora, 48 anos mais tarde, se materializa. Bob Marley, Peter Tosh, Joe Higgs, Aston Barrett, Carlton Barrett, Earl “Way” Lindo, se reuniram no Capitol Records’ Tower, em Los Angeles, para tirar este som sem pretensões, bancados pela Island Records, de Chris Blackwell.

Os Wailers, que começavam a ser reconhecidos fora da Jamaica, embora sem um grande hit, foram aos EUA, para divulgar seu trabalho, tocando em casas descoladas, feito o Max’s Kansas City, quando abriram para Bruce Springsteen. Foram escalados para abrir apresentações da turnê de Sly and The Family Stone. Um empreitada curta. A produção de Sly Stone dispensou os Wailers depois de quatro shows, porque a plateia não estava gostando, e passou a vaiar os jamaicanos.

Os sisudos rastas deviam causar muita estranheza na época. Negros ainda cultivavam cabeleiras black power, quando os rastas chegaram com os inovadores dreadlocks (os cabelos usados em tranças). A música também, apesar de derivada do soul, do rhythm and blues e do rock, era novidade, mas igualmente esquisita.  

Felizmente o integrantes dos Wailers permitiram que as sessões fossem filmadas, atendendo a um pedido do produtor Denny Cordell (produziu muita gente boa, de Joe Cocker, a Procol Harum, até os Cranberries). Assim foi registrada um momento especial dos Wailers, que logo partiria para uma vitoriosa carreira internacional. O grupo já apontava para o fim, com a saída de Bunny Livingstone e abril. Peter Tosh sairia dois meses e alguns dias  depois dessas gravações (realizadas em 24 de outubro)

A qualidade do som é muito boa, capta o grupo em sua fase Catch a Fire, lançando em abril de 1973, o reggae ainda está próximo do rocksteady. Apenas uma canção destas sessões, Duppy Conqueror, foi lançada em disco, o primeiro single americano dos Wailers. O disco e o vídeo estão disponível agora graças a um cara chamado Martin Disney, cineasta e pesquisador musical. Convidado, em 1989, pela Polygram (que adquiriu a Island Records), para explorar o arquivo de Bob Marley na gravadora, para ser usado num documentário que pretendia produzir (Time Will Tell, 1992).

No meio da montanha de material, Disney encontrou um trecho, com três minutos, de um vídeo em película de 16 mm, em p&b, dos Wailers em estúdio. Foi uma caçada que se estendeu por vinte anos. Descobriu que Denny Cordell (falecido em 1995) tinha a ver com a história. Procurou o filho dele, Barney Cordell, que tinha vagas recordações do pai com os Wailers, mas apontou o lugar correto no mapa do tesouro. L.A e Nova Iorque.  No fim da caçada estava com sete horas e meia de material, gravado com quatro câmeras, no Capitol Records’ Tower, em Hollywood.

O material foi resumido a uma hora. O resultado é como se os Wailer estivesse ministrando um “master class”, definição de Tim Dollimore, que trabalhou no material com Martim Disney. As doze faixas do álbum confirmam a confiança dos Wailer, sobretudo de Bob Marley, de como ele abre espaço para Peter Tosh (a quem Marley teria dado a autoria de Get Up Stand Up, depois de pedir a Tosh que escrevesse uma estrofe). A melhor faixa é a última,  também a melhor versão de Get Up Stand Up, um duo vocal, de seis minutos, de Bob Marley e Peter Tosh.

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