Em 2015 lancei o livro O Frevo Gravado – De Borboleta Não É Ave A Passo de Anjo Editora Bagaço/Funcultura), acho que deve ser o primeiro sobre o tema. Mas quando acabei o texto me dei conta de que o resultado estava bem longe do que indicava o subtítulo. Borboleta Não É Ave, de Nelson Ferreira e J.Borges Diniz, foi gravado em 1922, na Casa Edison, pelo cantor Baiano, enquanto Passo de Anjo, de João Lyra e Maestro Spok, é do disco de estreia da Spokfrevo Orquestra,de 2003 (relançado pela Biscoito Fino em 2006).
O espaço entre os dois frevo, um canção, o outro de rua, contém centenas de discos, de 78 rotações, LPs e compactos, praticamente tudo fora de catálogo. Não tive acesso nem a um terço da discografia do frevo, que começa nos anos 20, quando as gravadores carioca se deram conta de que havia um mercado de muito potencial, ignorado por elas, com uma música que no Sudeste se considerava folclórica. Daí em diante, passaram a lançar um suplemento carnavalesco para Pernambuco. Os representantes das gravadoras reuniam-se com comerciantes, entidades carnavalescas para julgar as composições com maiores probabilidades de sucesso popular.
Enviavam-se as partituras para o Rio, e os frevo de rua eram gravados por orquestras da RCA, Byington & Cia, ou interpretadas por nomes famosos do rádio, Mário Reis, Cyro Monteiro, Carlos Galhardo, Aracy Côrtes, mas a produção desses discos era escoada quase toda para o Recife. Com boa divulgação. As gravadoras instalavam postos de execução dos discos, com potentes amplificadores, nos principais logradouros do Centro da cidade. O povo parava pra escutar, e já ia embora com os novos frevos na cabeça
Como surgimento da Fábrica de Discos Rozenblit, o frevo virou autônomo. Era composto e gravado na capital do estado. Logo a RCA, Odeon e outras empresas começaram a lançar LPs com frevos disputando um mercado que já não se limitava a Pernambuco, mas ao Norte e Nordeste, graças a competente divulgação da Rozenblit. No início dos anos 60, quando o frevo dominava o comércio de discos no Recife, compositores sem vez na gravadora dos irmãos Rozenblit, pagavam pra gravar seus discos, a maioria compactos, com selos independentes. Estes são os mais raros de se encontrar, porque tinham problema de distribuição e vendiam pouco.
No começo dos anos 70, com a Rozenblit já envolta em crises financeiras, a música carnavalesca perdendo terreno para sucessos de meio de ano, houve uma proliferação de LPs independentes de frevo, isto pela ociosidade do estúdio da gravadora pernambucana, que dispunha de ótimos técnicos, e produtores. Então nas década de 70 e 80, há uma produção de álbuns de frevo, como este Carnaval 78 – É Pra Valer, com um dos selos da Rozenblit, o Passarela. O álbum tem 16 faixas, nenhuma estourou. Hoje é raridade, não é citado em enciclopédias, sites sobre MPB, somente em blogs ou no Youtube, disponibilizados por aficionados pelo gênero. Em CD, então, é quase impossível mapear, a maioria é de CDs queimados, só de orquestras itinerantes, as que fazem o carnaval de rua, dezenas e mais dezenas. Depois de publicar O Frevo Gravado descobri muito compacto, LP e CD que desconhecia. Ficam pra uma provável segunda edição.
Show, Teles! Tem um bom prossiga isso, viu?!
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