Não sou muito de vinil. Mas antes da peste, eu vez por outra dava umas circuladas pela Dantas Barretos, ia ao sebo, a fim de compactos. Não são muito procurados, portanto não têm preços hipervalorizados. Consegui muita coisa rara, importante, e que dificilmente ganhará um relançamento. Às vezes fui surpreendido por alguns compactos de cuja existência nem sabia.
Foi o caso de um disquinho que encontrei, na Dantas Barreto, do Trio Irakitan. O trio nascido no Rio Grande do Norte, em 1950, tem uma discografia extensa e muito rica. Foram de bolero, rumba, rock, samba, bossa nova, e até tropicalismo. Em 1968, na efervescência da Tropicália, o Trio Irakitan gravou um compacto duplo, com Quando Saí de Cuba (Luis Aquille/Tony Santos), Embolada da Mentira (Luperce Miranda), Vida Bacana (La Tramontana, Pace/Panzeri, versão de Fred Jorge), e Pega a Voga Cabeludo (Gilberto Gil/Juan Arcon), Esta ultima, uma das faixas mais visadas pelos conservadores no álbum tropicalista de Gil em 1968. Um rock meio Frank Zappa, anárquico. os arranjos estão entre a pilantragem e a tropicália, nada de violões, cordas.
Com Questão de Ordem, Pega a Voga Cabeludo é uma das poucas canções esteticamente transgressora da Tropicália. Portanto, era impensável num trio de harmonia vocais sempre azeitadas, porém rezando pela cartilha do convencional. Fora a gravação de Gilberto Gil, Pega a Voga Cabeludo só teve até hoje duas versões: esta do Trio Irakitan, e a de Os Brasões, grupo que acompanhou Gal Costa e Tom Zé. Não sei como o disco não esbarrou na censura pela gravação de Quando Sai de Cuba, afinal foi lançado pouco antes do AI-5.
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