Sobre o bom mocismo e condescendência na MPB

“Dom e Ravel são horrorosos e são primários, entende? São compositores de colégio, parece aquela música de formatura”, de Chico Buarque, em entrevista à revista Bondinho em 1972. Houve época, e que não havia o bom mocismo e condescendência generalizadas na música popular. Hoje ninguém ousa dizer que Barões da Pisadinha são horrorosos e primários, o que Juliette é apenas uma curiosidade. Tudo é muito bom, tudo é muito bem, e todo mundo canta com todo mundo, de boa.

Puxo o assunto, depois de escutar um podcast do músico e produtor português Luis jardim, que vive desde fins dos anos 60 em Londres, e trabalhou tocou ou produziu The Rolling Stones, David Bowie, Tina Turner, Seal, Duran Duran, um monte de gente. Aliás, o primeiro podcast que escutei todo. Acho podcast coisa pra quem não tá fazendo nada, e eu sempre tô. Nesse podcast, ao comentar sobre a música portuguesa recente , Jardim baixa a lenha: “Em Portugal temos meia dúzia de excelentes cantores, e depois uma tralha de gente que não canta nada (…) De cada vez que aparece uma canção portuguesa na rádio, apetece-me sair do carro, porque é tudo uma desgraça”.

Mais ou menos a sensação que sinto quando ouço a música que se toca no rádio nas últimas décadas, quando o politicamente correto levou as pessoas a verem qualidades insuspeitas em canções detestáveis. Alegam que é um questão de gosto. Um ovo podre continua sendo um ovo podre mesmo que as pessoas habituem-se a comer ovo podre.

NOTA DE PÉ DE PÁGINA

A história do que se convencionou chamar rock clássico, basicamente o que se fez nos EUA e Inglaterra entre meados dos anos 60 e 70, já foi tantas vezes contada e recontadas, que as únicas novidades que surgem, vez por outra, são as notinhas de pé de página, detalhes que ninguém se preocupou em contar. Foi no podcast da Blitz com Luis Jardim, que soube de um detalhe sobre o célebre concerto gratuito dos Rolling Stones, no Hyde Park, em 1969, em que se deu o adeus a Brian Jones, e as boas vindas a Mick Taylor.

Luis Jardim conta que não via mais futuro na Ilha da Madeira, onde nasceu, nem em Portugal, então decidiu ir para a Inglaterra. No ano em que chegou tocava percussão com um grupo de soul e jazz num pub que era frequentado pela nobreza do rock britânico. Uma noite estiveram por lá Mick Jagger e Ron Wood (ainda no Faces). No dia seguinte recebeu um convite, por telefone, para tocar com os Rolling Stones, no Hyde Park.  

“A ideia do concerto era que queriam um ambiente africano. E todos os percussionistas, eram cinco, tivemos que nos pintar para sermos todos pretos, naquele tempo não havia muitos, só alguns, e eu to lá. Fiz um cabelo afro, e pintei-me de preto. Não passei despercebido porque uns músicos viram o concerto.” Como começou e com quem abriu os caminhos para Luis Jardim, que entrou na equipe do produtor e músico Trevor Horn, que ajudou a fazer a história do pop inglês dos anos 80 e 90.

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