Depois de “narrativa”, a expressão que mais tenho escutado nesses dias, que já duram quase dois anos, é “bode na sala”. Num debate, acho que na Rádio Jornal, o pessoal se perguntava a origem do tal caprino. Conheci a história, que deu origem à série de bodes nas salas, há muitos anos, e me venderam como se fosse da Índia. Ei-la.
Um indiano (ser humano pertencente aos povos originários da Índia) tava numa merda federal. Morava numa casa superpequena, com mulher, sogra, cunhado, filhos pirralhos, ganhava uma merreca por mês. Um horror. O cara pensava seriamente em cometer um tresloucado gesto, Zé atear fogo às vestes, tomar suco de estricnina, algo assim.
Em vez disto, foi consultar o guru da aldeia. Chegando lá soltou o verbo. Contou todas as suas desventuras. O guru só escutando. Quando o indiano terminou o guru ponderou: “Mas deve ter alguma coisa boa na sua vida”. O indiano disse-lhe que na sua vida não havia nada de bom, a não ser a possibilidade da morte. O guru o olhou no fundo dos olhos e disse: “Pense direito, deve haver”.
O indiano pensou por alguns minutos, curvou-se diante do guru proferindo uma ruma de “namestê”, e falou: “Sim, guru, tem. Minha única alegria é uma vaquinha, que nos dá leite todas as manhãs”. O guru disse: “E então. Pra você se sentir próximo ao nirvana, me faça o seguinte: ponha a vaquinha dentro de casa”. O indiano boquiabriu-se. “Mas guru, aí vai ser um inferno da goitana”. O guru, já meio enfastiado com aquele papo pra baixo, insistiu: “Ponha a vaquinha dentro de casa, e me volte aqui dentro de um mês”. O Indiano soltou uma ruma de “gratidão”, e se foi.
Um mês depois o indiano retorna à casa do guru que, ao vê-lo, pergunta: “Como é que está sua vida agora?”. O indiano incorporou um muro das lamentações: “Guru, minha vida tá pior do que os quinto dos infernos. Tudo piorou depois da colocar a vaca na sala. Ela muge, peida, faz cocô o tempo todo. Minha mulher não fala mais comigo, minha sogra teve um derrame, os bruguelos choram sem parar, o cunhado deu pra beber e fumar liamba, um rolo. O que o guru me aconselha?”. E o guru: “Tira a vaquinha da sala”.
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