Miles Davis em disco com concerto “perdido”

Miles Davis – The Lost Concert (Sleepy Night Records), o último concerto de Miles Davis, no palco do La Grande Halle, no complexo cultural de La Vilette, em Paris foi lançado nessa quarta-feira, 29 de setembro, um dia depois do aniversário de 30 anos de morte de um dos maiores, e mais revolucionários, instrumentistas do século 20, e da história da música. Foi um concerto surpreendente, porque Miles não era de tocar o que o público queria, nunca revisitava a música de seus antigos discos.

Neste concerto no La Villettte, em julho de 1991 (ele morreria três meses depois), enigmaticamente anunciado como Miles and Friends, não se tinha idéia do que o irascível trompetista iria apresentar. Na época ele estava com uma nova banda, Kenny Garrett, Foley, Deron Johnson, Richard Patterson e Ricky Wellman. Abriu a apresentação com o que se esperava temas recentes, entre eles Human Nature (Steve Porcaro/John Betts). Logo, foram entrando os amigos,

Um dream team de músicos que participou de varias fases da trajetória de Miles, Chico Corea, John McLaughlin, Joe Zawinul, Bill Evans, Herbie Hancock, Dave Holland, para citar alguns. Miles passeou pelas suas variadas fases, sem esquecer temas de Kind of Blues. O concerto fechou com Jean-Pierre com todo mundo tocando junto. Uma celebração.

VASÓRVIA

Poderiam lançar, na íntegra, um dos mais importantes concertos de Miles, com um septeto, na reta final de sua carreira. Em 1983, ele viajou para a Europa com uma agenda de seis shows, iniciada em outubro em Varsóvia. A Polônia ainda pertencia a o bloco da chamada “cortina de ferro”, tempos de guerra fria. A cultura ocidental era vista com maus olhos, mesmo assim havia bolsões de rebeldia nos países comunistas, como o Jazz Jamboree, em Varsóvia, o maior festival do gênero na Europa oriental. A cada edição Miles Davis era o nome mais requisitado pelo publico, mas só foi, finalmente, confirmado nessa turnê.

Na época a  “cortina de ferro” começava a pegar ferrugem. E os governos tentavam se segurar.  Desde 1982, a Polônia encontrava-se sob Lei Marcial. O Jazz Jamboree de 1982 foi cancelado em protesto contra a repressão do Partido Comunista. Mas o festival de 1983 não enfrentou obstáculos.  Miles desembarcou no aeroporto de Varsóvia com um timaço de músicos: Robert Irving, Niño Chileno, Al Foster, Darryl Jones, John Scofield, Bill Evans, mais sua equipe de palco. Teve recepção ultravip. Foram transferidos do avião para um lounge, no aeroporto onde atendentes usavam um bottom em que se lia “We Want Miles”; Miles e sua trupe foram levados ao hotel numa limusine que era usada pelo primeiro ministro russo Yury Andropov, que mandou uma mensagem de boas vindas a Miles Davis. Um tratamento de superstar de rock and roll, com direito a suíte presidencial no mais luxuoso hotel da cidade.

Tanta gentileza amoleceu o coração de Miles Davis, que concedeu a dois músicos poloneses uma das suas entrevistas mais relaxadas e reveladoras.

O concerto, segundo os jornalistas que o cobriram foi o mais importante evento na historia do jazz na Polônia. A Sala Congresowa, onde foi realizado, tem capacidade 3 mil pessoas, mas entraram cinco mil.

Miles e o grupo tocaram como se fizessem aquilo para salvar suas vidas. A platéia entrou em transe. O músico que não mostrava muito apreço pelo público, não raro tocando de costas, voltou para o bis, e tocou mais três temas, a primeira e única vez em  que fez tal concessão.  O repertório baseado no álbum de 1982, We Want Miles. O registro desse concerto circula há anos em edições piratas, de pequenos selos europeus, inclusive em DVD, merecia um álbum oficial caprichado da Legacy/Columbia, na Bootleg Series.

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