Ninguém cantou o coração como Orlando Dias

Contam que certa vez João Cabral teria sugerido a Vinicius de Moraes que ele escrevesse sobre outra víscera, em suas letras de música.  A “víscera” a que se referia era o coração. Ontem, 29 de setembro foi o Dia do Coração, a víscera mais cantada na música popular no planeta. Falando de coração a primeira canção que me vem à cabeça é O Último Apelo, de Adauto Michiles, olindense (tio do compositor J.Michiles), ou Orlando Dias, um fenômeno de vendas no Brasil nos primeiros anos da década de 60.

Suas performances no palco eram arrebatadoras, ele se ajoelhava, puxava os cabelos, revirava mais os olhos do que ator de cinema mudo. Seu repertório ajudava para a interpretação dramática, na maioria do que cantava vivia amores impossíveis, imerecidos, suicidas. As letras abrigavam-se em bolerões, tangos. Em muitas, óbvio, a víscera coração faz-se presente, mas não tão exacerbadamente quanto em o  O Último Apelo, sucesso 60 anos atrás:

 “Doutor rasgue o meu peito/para libertar-me desta dor”, são os versos iniciais. Ao cantá-la em público Orlando Dias arrancava botões da camisa, desnudava o torso, oferecendo-o ao bisturi de um imaginário cirurgião.  Por sinal, em 11 de agosto foi aniversário de 20 anos de morte do cantor que foi uma espécie de Augusto dos Anjos da bela música popular cafona brasileira.

2 comentários em “Ninguém cantou o coração como Orlando Dias

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  1. Lembro-me de uma história que se contava em Campina Grande, que após uma apresentação na rádio Borborema, ele teve que sair escoltado pela polícia já que a turba queria linchá-lo por “trejeitos afeminados ” quando da frase Obrigado minhas fás. Meus irmãos contavam essa história.

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