Crônica – O rapaz foi ali, mas volta rapidinho

Sou perseguido, aliás, vítima, de uma das frases mais terríveis da língua brasileira, a tal “O rapaz foi ali”. Durante a pandemia, cá em casa, tomadas desparafusaram-se, torneiras deram pra pingar, descargas a não descargar. Fui ao  mercado de Boa Viagem procurar o rapaz que conserta esses bregueços. Chego ao box onde atende, e uma moça me diz que o rapaz foi “ali”.

Meio misterioso isto. As moças estão sempre lá, porém o rapaz, tá sempre indo “ali”. Este “ali” não se tem ideia onde fica. Sabe-se apenas que não é longe Porque a moça geralmente acrescenta: “Mas volta logo”. Todos vocês já passaram por isto, porque  não tá com a goitana que só aconteça comigo. Se bem que certas coisas só acontecem comigo. Foi não foi, o celular tem umas crises súbitas de amnésia. De uma hora pra outra, não atende nem sms de robô.

Na última crise do cel, corri à oficina de telemóveis, no supracitado Mercado de Boa Viagem. A moça me disse que o rapaz havia ido “ali, mas que voltaria logo. Logicamente, não voltou logo. Esperei meia hora e nada do rapaz voltar do “ali”. A alguns metros havia outra oficina. Fui lá, já sabendo que o rapaz dessa oficina tinha ido “ali”, mas esperançoso de que já  tivesse voltado. A moça dessa oficina disse, pra meu alivio, que o rapaz estava lá.

Meu dia de sorte, exultei, cá com meus botões, prematuramente. O rapaz perguntou qual  o problema do celular. Mexeu no bicho, e garantiu ser bronca safada. Pediu pra eu segurar as pontas, só um pouquinho, porque  precisava ir “ali”. Em vez das pontas, segurei uma cerva num bar do mercado. Fiz hora pra voltar. Quando voltei, o rapaz já havia voltado, porém tinha ido embora, me disse a moça, apontando para o relógio de parede, cujos ponteiros encontravam-se em cima das 14h. Era um sábado.

Resignado, deixei o celular, pra pegá-lo de volta na segunda. Quando liguei, a moça disse que o cel devia tá pronto, mas não tinha certeza, porque o rapaz, tinha ido “ali”. Pra evitar perda de tempo, pedi-lhe que me ligasse, a cobrar, quando o rapaz voltasse do “ali”, pra eu chegar lá antes que ele fosse ao “ali” de novo.

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