Big band recria Electric Ladyland, de Jimi Hendrix

Desde 1974, que ninguém ousava gravar a música de Jimi Hendrix com orquestra. O maestro Gil Evans fez isto no álbum Gil Evans and His Orchestra Plays the Music of Jimi Hendrix (relançado com faixas adicionais em 1988). Desta vez quem empreende a façanha é uma orquestra de 16 músicos ingleses, liderados pelo guitarrista Denny Illet. A Electric Lady Big Band surgiu em 2018, para celebrar os 50 anos de lançamento do álbum Electric Ladyland, com um concerto no Ronnie Scott’s, o lendário clube de jazz, no Soho, onde Jimi Hendrix tocou pela última vez, com a banda War, de Eric Burdon,

Illet costumava incluir canções de Jimi Hendrix, a Ideia da formação que escolheu, veio de uma das últimas entrevistas concedida por ele, que confessava que se sentia limitado por tocar em trio, e que gostaria de estar com uma orquestra regida por ele. Denny Illet faz o que Hendrix não teve tempo de fazer, é um guitarrista comandando uma big band.

A Electric Lady Big Band segue a ordem do repertório do Electric Ladyland,  às vezes chegando próximo ao original, ou tomando liberdades, como acontece em All Along the Watchtower (Bob Dylan) em salerosa levada cubana, que destoa do restante do álbum. Enquanto em Rainy Day, Dream Away tem roupagem jazzística, mas com Denny Illett emulando o solo de Hendrix, caprichando no wah wah, pedal surgido quando Hendrix começou e de que ele foi o primeiro a explorar (no caso o pedal Cry Baby).

Illet, que também canta em algumas faixas, é um grande arranjador, e nisto está o que faz do álbum mais do que uma curiosidade. Voodoo Child (Slight Return) que fecha o disco, abre com guitarra no wah wah, feito no original, mas logo entram os naipes de trompetes, trombones e saxes (quatro músicos em cada naipe), que comandam os mais de oito minutos da faixa. A banda tem ainda um teclado Rhodes, bateria e contabaixo. Denny Illet conta que o mais difícil foi escrever as melodias para os instrumentos, já que em muitas delas, Hendrix canta quase falando (ele dizia não gostar da própria voz)

 A Electric Lady Band, apesar de todos os improvisos, tem praticamente o mesmo tempo do álbum original, duplo, apenas dois minutos a mais. Um disco que não apenas atrai foco para a música de Jimi Hendrix, ao mesmo tempo em que ratifica o quanto ela é ricamente complexa, e atemporal e aberta a receber as mais diversas revisitações. O álbum foi lançado em 2019, mas foi atrapalhado pela eclosão da pandemia, e somente agora é que é devidamente divulgado. A Electric Lady Band apresentou-se poucas vezes. Não apenas pela covid-19, mas também porque seus músicos têm projetos pessoais e entre eles há alguns dos mais requisitados instrumentistas de jazz da Inglaterra.

Electric Ladyland

O terceiro e último álbum de estúdio que Jimi Hendrix lançaria em vida, Electric Land ainda era visto como uma objeto não identificado na música popular de dos anos 60. Alguns o consideravam um novo tipo de blues, outros música espacial. O crítico do então jornal Rolling Stone, Tony Glover confessa que quando pegou o álbum para resenhar, estava de saco cheio de música barulhenta, como uma reação ao que se vivia naquela época, 1968.  “Então eu estava certo de que não curtiria este LP. Mas tive que curtir. Hendrix é um bom músico, e seus conceitos de ficção científica supera o barulho.

Electric Ladyland é o mais ousado dos discos de Jimi, certamente porque ele acabou tomando as rédeas da produção, do seu empresário Chas Chandler. O álbum que é considerado o melhor disco de Jimi Hendrix, foi realizado aos pedaços. Começou a ser gravado em 1967, em estúdios americanos e inglesas. Somente em abril de 1968, as sessões aconteceram no estúdio Record Plant, em Nova Iorque. Ainda assim em o devido sossego que se imagina que deva existir quando faz um disco. Hendrix tornara-se uma celebridade. O estúdio lotava de amigos, amigos de amigos, rolava drogas e bebidas, o que irritou o baixista Noel Redding (muitas partes do baixo são de Hendrix). Jack Casady, baixista do Jefferson Airplane, e Stevie Winwood (então no Traffic), Brian Jones, Al Kooper, Dave Mason, alguns dos que participaram das gravações.

A concentração de Hendrix era impressionante. Ele e o baterista Mitch Mitchell chegaram a repetir 50 takes de uma mesma música. Ele criou uma forma totalmente inovadora de interpretar, a voz parecia flutuar, mas era inseguro quanto a isto, e gravava vozes superpostas,  passava muito tempo até ficar, mais ou menos, satisfeito, com os vocais.

Hendrix sabia que o disco não era fácil, e que a crítica teria dificuldade de entendê-lo. Assim abre o repertório com And the Gods Made Love, experimentos eletrônicos, montados com loops. Achava que a faixa seria a mais criticada, então começou logo com ela. O disco, para surpresa de Jimi Hendrix, foi bem recebido pelo público, chegou ao topo das paradas  nos EUA, e foi muito na Inglaterra. All Along The Watchtower foi seu maior hit

Curiosamente, o único imbróglio de Electric Ladyland  deu-se por causa da capa, ilustrada por uma foto de várias mulheres nuas. A maioria com os rostos cansados, pela longa sessão a que foram expostas. A ideia foi da gravadora, provavelmente, querendo pegar carona na fama de garanhão de Jimi Hendrix, que detestou a ideia (não o consultaram). Muitas lojas inglesas não quiseram expor o álbum nas vitrines. Hendrix mandou um esboço de uma capa, para substituí-la. A capa acabou sendo modificada, não ficou pior do que  a primeira, mas chega perto.

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