Sutis alusões sexuais ligam Shakespeare aos Beatles

Romeu e Julieta, a mais romântica e lírica das peças teatrais, adaptada para inúmera obras, West Side Story, de Leonard Berstein, provavelmente, a melhor, no texto original de Wiliiam Shakespeare é romântica, mas não tão lírica. Assim como as demais peças do mais aclamado escritor da língua inglesa, é impregnada de insinuações sexuais, eufemismos libidinosos, ou palavrões explícitos.  Shakespeare era um homem do povo, escrevia na linguagem do povo, que formava a plateia que o assistia.  Os personagens de Romeu e Julieta são adolescentes, e falam linguagem de adolescentes, com safadeza permeando quase todos os diálogos.

Em 1808, um médico chamado Thomas Bowdler reuniu vinte peças de William Shakespeare, devidamente esterilizadas, livres das obscenidades, numa coleção, em três volumes, intitulada Family Shakespeare, de forma que pudessem ser lidas diante das crianças. Bowdler não se restringiu às expressões libidinosas, como também imprecações e atos não condizentes com a moral e os bons costumes.

Fossem os Beatles contemporâneos de Shakespeare, provavelmente Thomas Bowdler teria mexido em várias letras do grupo. Da mesma classe social do bardo de Strattford- Upon-Avon (a 160 km de Liverpool), John Lennon e Paul McCartney impregnaram suas letras de sacanagens, só entendidas por quem fosse do mesmo nível social que eles, ou da mesma idade. Ninguém passava ileso por uma temporada no Reeperbahn, bairro portuário de Hamburgo, a maior zona da Europa, onde os Beatles estagiaram à véspera da fama, tocando no principal cabaré do local o Star Club.

O primeiro grande hit do grupo na Inglaterra é uma óbvia canção masturbação, Please, please me like I please you. O refrão é um dos mais sutilmente eróticos da música pop: “Come on, come on, come on, come on/please, please me/like i please you”. Come, claro, é gozar, o restante completa asserção: “Me dê prazer, como eu dou a você”. Já a considerada bobinha I Want to Hold Your hand vai pelo mesmo caminho. Na verdade, o namoradinho não está querendo segurar apenas a mão da namoradinha. No meio da canção, os versos revelam o que rolava: “Enquanto toco em você/me sinto feliz por dentro/ é um sentimento que não consigo o meu amor esconder”, Shakespeare talvez se valesse do mesmo eufemismo para uma ereção.

A mais shakespeariana das letras dos Beatles está em Penny Lane. Paul McCartney que estudou literatuea inglesa, provavelmente se inspirou no autor de Hamlet para escrever os versos Quem dissecou Penny Lane foi um jornalista inglês, que escreve sobe música, Alex Markham (https://byalexmarkham.eo.page).  A letra fala num banqueiro que nunca usa uma capa, mesmo debaixo de chuva (and the banker never wears a mac/in the pouring rain/very strange”. Mac é diminutivo de “Mcintosh”, capas de chuva de borracha. Em Liverpool “Mac” era gíria para “camisinha”, e “pouring rain”, eufemismo para ejaculação.

A letra é uma obra prima literária, pela maneira que McCartney conseguiu abrigar tantos personagens bizarros em poucas estrofes. Há o bombeiro tarado pela rainha, cujo retrato carrega no bolso, adiante cita a comida de rua mais popular da Inglaterra “fish and chips (peixe e batatinhas) and finger pie”, esta última gíria do povão para vagina (torta de dedo). Mas a letra não se refere penas à safarnagem.  Na época de Shakespeare não se curtia drogas químicas, mas em Liverpool, sim. A freira vendendo “poppies” numa bandeja, é um dos versos da canção, “poppies”, era gíria pra drogas químicas, anfetaminas ou, como se dizia no Brasil, dos anos 60, “bolinhas”.

Uma das mais engenhosas letras dos Beatles: Em Penny Lane, the barbeiro faz a barba de outro freguês/a gente vê o banqueiro sentado, esperando uma escanhoada”, por escanhoada entenda-se uma “peladinha”. McCartney exercita suas memórias afetivas de garoto de classe média baixa de uma maneira que William Shakespeare aprovaria.

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