Carlos Santana em Blessings and Miracles, mais um disco na base do “unidos venceremos”

No início dos anos 70, eu e uma turma do colégio, nos reuníamos pra curtir um som, mas ainda numa de Badfinger, Beatles, grupos ingleses, com uma vaga para os Mutantes. Um dia chegou um amigo de alguém da turma, que tocava numa banda, que se chamava então de conjunto, e nos mostra um LP, o primeiro álbum da Santana Band, o que tem um leão na capa. Foi meio um choque pra gente, porque aquela música, não tinha a ver com o que a gente escutava, ao mesmo tempo, pelo menos eu, mostrou que estávamos defasados em relação às novidades do pop rock.

Lembrando que na época se escutava muito MPB, Caetano, Chico, Gil, Gal. O LP de Caetano e Chico ao vivo no teatro Castro Alves todo mundo possuía. Construção, de Chico, foi um dos discos mais vendidos de 1971 Tem muito de falácia, a asserção de que os Odair José da vida vendiam muito, e assim garantiam a permanência nas gravadora de artistas difíceis, de elite, que vendiam pouco. Alguns realmente não eram bons de venda, feito Milton Nascimento, porém, em boa parte, pela ação da censura. Milagre dos Peixes, de 1973, teve várias letras censuradas, e foi gravado assim mesmo, mutilado.  Dois anos mais tarde, Com Minas, depois Geraes, Milton passou a ser campeão de vendagem.

Mas voltando à Santana Band, a gente o incluiu nas nossas audições, até porque Evil Ways, e Samba Pa Ti entraram para o repertório dos conjuntinhos de baile.  Acompanhei a carreira de Carlos Santana até certo ponto. Mais tarde, já escrevendo sobre música, passei a receber seus discos das gravadoras. Dá pra notar que o cara esforçava-se para sair do beco sem saída em que entrou ao criar sua sonoridade particular, o timbre inconfundível da guitarra. Percebido já no festival de Woodstock, em 1969. A Santana Band, que estava chegando ao disco de estreia, só era conhecida na área de San Francisco, entrou na programação como contrapeso, com as outras atrações que o empresário Bill Graham negociou com a produção do festival. Pelo fim da década Santana  soava repetitivo.

A procura de uma sonoridade que o tornasse novamente palatável para o consumidor de discos, Carlos Santana deu a volta por cima com Supernatural, de 1999, em que se cercou de colaboradores, a maioria da nova geração pop, Ceelo Green, Lauryn Hill, Dave Mathews, os mexicanos da Maná, e o velho Eric Clapton. O disco foi o último mega sucesso do século 20. Fez jus a 15 Disco de Platina, foi primeiro lugar nas paradas de onze países. Desde então ele segue esta linha de “unidos venceremos”, lançando álbuns em intervalos de dois anos. Em 2019, foi Africa Speaks, agora Santana vem de Blessings and Miracles, mas um no estilo Supernatural.

Com 74 anos, 55 de palcos, chega a ser curioso ver Carlos Santana no meio da meninada do rap, trap, reggaeton, que domina o mercado pop já há alguns anos, e como ele convive harmoniosamente com gerações musicais. O novo álbum tem desde o contemporâneo dele Stevie Winwood, passando por Kirk Hammett, da Metallica, até o atual sucesso da country music Chris Stapleton, mais o rapper G-Eazy, Rob Thomas (Matchbox Twenty), e Chick Corea (em uma de suas ultimas gravações em estúdio. Faleceu em fevereiro de 2021). Estão no disco também os filhos e a mulher de Santana, Cindy, que é baterista do grupo.

Claro, o Santana psicodélico e alternativo ficaram lá na estrada que sai da região de Woodstock, há décadas ele faz discos para o mainstream. Este é mais um, no estilo inventou, e turbinou. As duas faixas iniciais são instrumentais, solos de guitarra como ele tocava nos idos de 1970. O restante do disco tem de tudo um pouco. Pesado, na faixa com Kirk Hammett e Mark Osegueda (da Death Angel), jazz fusion, com Chick Corea, nostálgica com Stevie Winwood (cantam a surrada Whiter Shade of Pale, do Procol Harum).  Enfim, se a pessoa estiver a fim de música cabeça, pra botar a cabeça pra trabalhar, é procurar um dos seis discos que o jazzmen expermentalista John Zorn lançou em 2021 – um deles com o sugestivo título de Nostradamus – The Death of Satan -, caso contrário é se deixar levar pelo balanço latino do chicano Carlos Santana.

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