Bedouine, uma emergente, e inusitada estrela da canção folk

Um desses discos pelos quais se é atraído pela capa que não poderia ser mais simples. A foto da cantora com um violão, seu nome em letras que emulam caracteres árabes. Bedouine, ela. Waysides,o álbum. Azniv Korkevian, de família armênia, nascida em Aleppo, na Síria, crescida na Arábia Saudita, e residente na Califórnia. Esta trajetória, por si só, já desperta curiosidade. Sua música estranhamente não traz influências do oriente médio, nem da Armênia. Bedouine faz música folk, como uma veterana dos anos 60, início dos 70.

Waysides é seu terceiro disco (ela estreou em 2017), com canções inéditas, umas recentes, outras mais antigas. Embora se assemelhe ao folk de 60 anos atrás, o folk, com toques de country, de Bedouine, não é retrô, mesmo que sejam sentidas influências de Joni Mitchell, Leon Cohen, ou de Astrud Gilberto, elementos sonoros modernos permeiam o álbum. The Solitude, a faixa de abertura é um canção pop perfeita. Dessas que, na primeira escutada, fica na cabeça, é como se fosse uma composição do grego George Moustaki, com um arranjo de Paul McCartney. Aliás, Moustaki tem uma canção chamada Ma Solitude

Azniv Korkevian estudou efeitos especiais em estúdio, fez trilhas, e tornou-se profissional por acaso. Seu álbum de estreia, Bedouine, foi um dos discos mais elogiados de 2017, e ela uma das revelações do ano. Porém, com um estilo que caminha na contramão do que predomina no mercado de sucessos, se tornou iguaria para poucos e refinados paladares.

Waysides é um disco que, provavelmente, não seria feito se não fosse a pandemia. Azniv queria gravar o terceiro álbum, e resolveu, em lugar de compor, pinçar canções de um arquivo que tem o nome do disco, grosso modo, tarefas deixadas inconclusas. As músicas são de várias épocas, a mais antiga de 2007. Mas não soam como uma colcha de retalhos criada para ocupar o tempo ocioso. O companheiro de Bedouine é o produtor Gus Seyffert, que produz Beck e Norah Jones. O estúdio dele fica no pavimento térreo da casa onde moram. As canções foram buriladas sem pressa. Os dois cantam junto numa das melhores faixas Sonnet 104.

Bedouine e Gus vêm o disco com o conceito de unidade, não são do single. A canção que antecipou o álbum, The Solitude, foi lançada como eram os antigos compactos, como chamariz para divulgar o disco. Mas poderia escolher outras faixas, feito It Wasn’t Me, que tem as mesmas qualidades, arrebata o ouvinte na primeira frase. São dez canções neste nível. Fluem como as águas límpidas e doces de um regato. Nove delas são autorais, e uma, Birdsong, que fecha o disco, de Rumours (1976), do Fleetwood Mac (composta por Christine McVie). Numa resenha do disco na revista digital Paste, Ana Cubas, a escriba, define Bedouine como algo secreto, tão bom, que se é tentado a não compartilhar a descoberta com ninguém.  

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