Música de boate, capítulo esquecido da música brasileira

A história da MPB é contada quase sempre, pra não dizer “invariavelmente” deixando de passar por um capítulo importante, situado entre os anos 50 até, mais ou menos, 1968, o da música instrumental, de pequeno e grandes conjuntos, que gravavam discos feito para dançar, e animavam as boates pelo Brasil. Uma época em que casais tinham como programa favorito sair para dançar. Também a época das boates, de pouca luz, muita fumaça, uísque escocês legítimo, porque comprado ao contrabandista de confiança. Copacabana tinha o maior número de boates por metro quadrado do Brasil. Exigia, pois, igual quantidade de atrações musicais. Quanto mais badalada a atração mais clientes iam a determinada boate. São Paulo, claro, abrigava dezenas delas, o que acontecia, em menores proporções, nas principais cidades do país.

Nomes que  lideravam grupos: Waldir Calmon, Moacir Silva, Britinho (João Leal Brito), Lauro Paiva, Djalma Ferreira, dos poucos a ter reedições de seus discos (pela Discobertas). Estes conjuntos de música para dançar foram também uma escola de instrumentistas, o próprio Luiz Gonzaga tocou em casas noturnas, assim como Dominguinhos e Sivuca. Sem esquecer de João Donato, e Johnny Alf, atração que lotava o Plaza, Alguns tinham casa fixa, como Waldir Calmon, aliás, a casa era dele, a boate Arpège, assim como o Sacha’s, cujo líder do conjunto era o pianista Sacha Rubim, o dono do estabelecimento, que se revezava com o pianista Fats Elpídio.  Djalma Ferreira também tinha o seu Drink, onde criou um estilo próprio de samba, adaptado a dança para casais.  Com ele tocaram, entre outros, Ed Lincoln, Milton Banana (ambos teriam seus badalados grupos), e teve como crooners Luiz Bandeira e Mltinho.  Ferreira é tido como o introdutor do órgão na música brasileiro, e também do solovox, teclado Hammond, que funcionava conectado ao piano.

 Um capítulo especial da MPB, que merecia um livro dedicado só a ele. Ruy Castro aborda o tema em A Noite do Meu Bem (Companhia das Letras, 2015), e Zuza Homem de Mello, um pouco, em A Trajetória do Samba Canção (1920/1958), da Editora 34. Assim como o livro de Zuza, o de Ruy foca o samba-canção como a música das boates, onde se podia curtir a dor de cotovelo com um belo fundo musical, que poderia ser o do saxofonista Moacir Silva e seu conjunto, ou mesmo o do acordeonista paulista Mario Gennari Filho, que tem a capa de um dos seus LPs ilustrando a postagem. A beldade de maiô é a atriz Norma Bengell. O disco é de 1959.

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