O samba enredo no descompasso da melodia com o beat acelerado da bateria

A covid-19 não poderia estar fora, obviamente, dos 12 sambas de enredos que formam a trilhas do desfile das escolas do 1º grupo do Carnaval carioca de 2022, se carnaval houver. O ator Paulo Gustavo, falecido em maio de 2021, é tema do enredo da São Clemente, enquanto a Unidos de Viradouro canta sobre o carnaval de 1919, o primeiro realizado depois da pandemia da gripe espanhola. A temática racial está em mais três sambas enredo, outro, Vila Isabel, celebra Martinho da Vila, enquanto a Mangueira canta três personagens de sua história, Cartola, Jamelão e o mestre-sala Delegado.

 As alas de compositores tiveram bastante tempo para criar seus sambas, mas dificilmente serão lembrados depois do desfile na Marquês de Sapucaí. Todos são atropelados pelas bateria aceleradas, o que já vem de anos. Acaba como única novidade a presença de Carlinhos Brown estreando como co-autor de samba enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel, Batuque ao Caçador (com mais sete parceiros, Diego Nicolau, Cabeça do Ajax, Gigi da Estiva, JJ Santos, Nattan Lopes, Orlando Ambrósio, Richard Valença).

Não combinam o trote da composição, com o galope dos ritmistas. (Falta sincronia com a ala percussiva ao belo samba Resistência (Demá Chagas, Pedrinho Da Flor, Claudio Gladiador, Leonardo Gallo, Renato Galante, Zeca Do Cavaco), e a bateria). Assim como este, outros sambas têm pouca chance de ir além da Marquês de Sapucaí pelo compasso frenético com que são interpretados. As alas de compositores deveriam sentar em torno de discos de antigo enredos. Aliás, há 50 anos, um dos maiores sucessos na passarela, tornou-se um dos maiores sucessos do país, Festa Para Um Rei Negro, de Zuzuca, enredo da Acadêmicos de Salgueiro, no carnaval de 1971. Aquele do refrão contagioso: “Ô lelê, ô Laila/pega no ganzê, pega no ganzá”.

Samba enredo não é apenas a trilha que cuja letra é contada nas várias alas da escola, uma ópera popular, é também música de carnaval, e como as marchinhas, frevos canção e a parafernália rítmica da axé, tem que pegar de cara o público, carnaval, mesmo tendo se tornado uma festa de, pelo menos, dois meses, passa rápido.

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