Neil Young, que por sinal inteirou, nessa sexta-feira 12, de novembro, 76 anos, esteve ocupado com seus fornidos arquivos durante a pandemia. Em 2020 lançou cinco discos, em 2021, até agora, quatro, Live at the farm Aid, Way Down the Rust Bucket, Young Shakespeare e, no final de setembro, o álbum Carnegie Hall 1970, registro de um show em uma das suas melhores fases, numa época em que ele tocava carreira solo low profile, com a banda Crazy Horse, e reunia-se, eventualmente, com Crosby, Stills e Nash. Viajava sem a opulência e excessos que marcariam as turnês de rock na década de 70. Em Cleveland, Ohio, por exemplo, tocou numa casa chamada La Cave, para uma plateia de duas centenas de pessoas.
Em Nova Iorque, ele e a banda hospedavam-se num hotel modesto, o Gohram Hotel. Embora tenha optado em correr com o Crazy Horse por fora da raia, já era um dos nomes mais respeitados da geração dos anos 60, com suas passagens pelo Buffalo Springfield e o citado Crosby, Stills, Nash & Young. No CSN&Y, destoava do espírito californiano Laurel Canyon dos três companheiros (que eram parte da folclórica realeza pop de Los Angeles, que abrigava de The Mondeis a Joni Mitchel, de Peter Fonda a Nilsson, dos Beach Boys a Phil Spector. Membros dos Beatles, The Who e Rolling Stones faziam de L.A a sua base quando iam aos EUA.
Neil Young nunca se integrou completamente ao CSNY. Na gravação de Déjà Vu, em San Francisco, há faixas de que ele nem participa. As elogiadas harmonias vocais do grupo, nem sempre tem Young, que é mais de vocal solo. Em Teach Your Children, ele nem toca. A guitarra slide é de Jerry Garcia, do Grateful Dead. Em sua autobiografia Waging Heavy Peace, Neil Young revela sua desilusão com o CSNY: “Mas então veio a fama, as drogas, o dinheiro, casas, carros, admiradores, álbuns solo. Tinha que cair fora. Tinha muito a dar, muitas canções em mim, tantas ideias e sons na cabeça. A banda não acabou, simplesmente parou”.
Neil Youg deixou a banda, a mulher deixou ele, alegando que não estava preparada para viver com um marido famoso demais. Ele decidiu entrar em turnê, só voz e violão, e o poder das canções. Em 4 de dezembro de 1970, apresentou dois shows no Carnegie Hall. O segundo, começou meia-noite, na verdade, inicio da madrugada do dia 5. Talvez por ser sua estreia num dos maiores espaços dos país, ele encarou o desafio apresentando dois concertos memoráveis. O segundo circula desde então em edições bootlegs (piratas). O do dia 4 permanecia até então inédito, Young o considera o melhor dos dois. Ele traçou uma retrospectiva de sua relativamente curta carreira, com canções da Buffalo Springfield, de discos individuais, e o que fez com o CSNY, um total de 23 faixas.
Carnegie Hall 1970 é o início de uma série chamada Bootleg. Se consistir apenas deste álbum, duplo, em vinil, já está de bom tamanho. Rust Never Sleeps ao vivo foi considerado por muitos críticos um dos dez melhores álbuns da década de 70. Fosse lançado na época, com esta qualidade de som, Carnegie Hall 70 talvez fosse mais um disco de Neil Young na lista. Não apenas a seleção de canções é perfeita, incluindo raridades, que sumiram de seus shows, e algumas ainda inéditas, feito Old Man, que entraria no próximo álbum de estúdio, Harvest, ou Bag of Loneliness, que só seria lançada em disco em 2007 (em Live at The Massey Hall).
Ao longo de 91 minutos, Neil Young vai ficando mais à vontade, tece comentários entre algumas músicas, desculpa-se quando acompanha-se ao piano: “Não sei tocar bem, todas as introduções”. Em Ohio, inspirado pelo massacre da “polícia de Nixon”, na Universidade de Kent, um episódio ainda recente. Em 4 de maio de 1970, a polícia matou quatro e feriu mais nove pessoas ao invadir o campus da universidade, numa reação contra manifestações estudantis. O público escuta em a canção em silêncio. Aliás, na maior parte do show, a plateia comporta-se como se estivesse assistindo a um ato litúrgico, prova da força da música e do carisma de Neil Young.
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