Brian Wilson, ao piano, reduz 15 sucessos dos Beach Boys às melodias básicas.  

Os Beach Boys gravaram ao longo dos anos 60, algumas das melhores canções da década, que envolveram com harmonia vocais intricadas, desenvolvendo uma tradição americana e influenciando grupo mundo afora. Como são belas as canções é o que Brian Wilson, aos 79 anos parece querer ressaltar no álbum My Piano, com 15 faixas, em solo de piano. Um trabalho tão intimista que é como se o ouvinte estivesse sozinho num piano bar e o pianista tocasse para ele, o único cliente da casa.

Estão no repertório alguma das composições mais conhecidas lançadas pelos Beach Boys, todas em versões instrumentais. Brian Wilson não é um virtuoso, mas começou a tocar o instrumentos quando tinha quatro anos, de maneira que toca muito bem. Ele vai ao cerne da melodia, feito se dissecasse cada uma delas, para mostrar de onde todas aquelas canções exuberantes vieram. Em algumas publicações o álbum está nas resenhas do erudito. Tem algumas que Gershwin não hesitaria em assinar, casos de I Just Wasn’t Made For This Time, ou a obscura Mount Vernon and Fairway (do EP que acompanhava, como bônus, o álbum Holland, de 1973), esta segunda lembra peças de Satie.

Algumas fizeram tanto sucesso que, em versão instrumental, trazem de imediato a letra e os vocais à memória. É quase impossível dissociar Good Vibrations da versão original (Brian Wilson passou quase seis meses no estúdio a produzindo). Noutras, o piano realça a beleza das melodias, como acontece com God Only Knows, In My Room e Don’t Worry Baby. A interpretação de Brian é direta, sem firulas, só a espinha dorsal da composição. Brian Wilson At My Piano soa como um fantasma do passado, mas um fantasma de alguém querido de quem sentíamos muito a ausência

60 ANOS

O Beach Boys completou 60 anos em 2021. A banda que foi símbolo de um país que passava para o mundo uma imagem de felicidade, prosperidade e liberdade não poderia ser melhor representado por um grupo que parecia um reflexo do sonho americano. Garotos de classe média, que trouxe a música feita pelos negros para a Califórnia, a terra onde o sol nunca se punha. O Beach Boys era formado pelos irmãos Wilson, Brian, Denis e Carl, um primo. Mike Love, e um amigo Al Jardine.

Ao longo dos anos o Beach Boys provou-se mais uma tragédia americana. Por trás do sonho californiano, mais uma tragédia americana. O pai dos três Wilson era um tirano, brigas internas azedaram as relações entre os integrantes, Brian Wilson sofreu problemas mentais na ânsia de superar a criatividade dos Beatles, agravado pelas drogas. Carl e Denis morreram, este último, ironicamente, era o único dos Garotos da Praia que surfava. Embora a última canção surfe dos Beach Boys seja de 1964 (All Summer Long), a banda não conseguiu se desvencilhar da imagem dos primeiros anos, nem mesmo depois de Pet Sounds.

O mundo e a música tomaram caminhos tumultuados na segunda metade da década de 60, e a música dos Beach Boys foi ficando defasada. Não só a música mas os próprios integrantes, que recusaram a se apresentar festival Monterey Pop, realizado em junho de 1967, e que revelou para o mundo The Who, Janis Joplin e Jimi Hendrix. O final da década foi desastroso para o grupo, que entrou em uma pendenga judicial com a gravadora Capitol, que arquivou o álbum Smile, com o qual Brian Wilson queria superar não apenas os Beatles mas a si mesmo. Em 1969 foi internado numa clínica psiquiatra. Denis Wilson tornou-se amigo do psicopata Charles Manson, e até produziu um disco dele, o que pegou muito mal quando a família Manson cometeu uma das chacinas mais tristemente célebres do século 20.

O contrato dos Beach Boys com a Capitol terminou em 1969, e a gravadora, ainda em litígio com o grupo, que exigia dois milhões dólares de direitos não pagos. A Capitol retirou todos os discos do grupo de catálogo. Mas o grupo, estava vendendo muito pouco. O álbum Friends, de 1968, entrou na rabeira da parada da Billboard, e sumiu (é um dos melhores do grupo). Onde se metia o grupo se dava mal. Uma malfada turnê americana com o guru indiano Maharashi Maheshi Yogi, só teve cinco shows e foi cancelada. O guru indiano decidiu-se por outros compromissos, e abandonou o grupo, dando-lhe um prejuízo de 250 mil dólares, com o cancelamento de 24 apresentações.

Pra piorar a editora da música dos Beach Boys, a Sea of Tunes vendeu o inteiro catálogo do grupo para a editora Irving Almo Music por meros 700 mil dólares (ao longo dos anos renderiam mais de cem milhões de dólares. Hoje vale 70 milhões de dólares). Detalhe: quem estava à frente da Sea of Tunes era Murry Wilson, pai de Brian, Denis Carl. Brian, autor (sozinho ou com parceiros). Teria um final feliz nos anos 90, quando Brian ganhou um processo contra a venda, que lhe engordaria sua conta bancária em 25 milhões de dólares.     

 O grupo continua na estrada guiado por Mike Love. Mas as tretas continuam. Em 2020, Mike Love fez um show do seu Beach Boys, em Orange County, na Califórnia, para arrecadar dinheiro para a campanha de Donald Trump, que esteve presente. Imediatamente, Brian Wilson e Al Jardine (que deixou o grupo em 2012), protestaram, negando que tivessem alguma coisa a ver com o evento. Mike Love tem o direito de usar o nome Beach Boys.

 

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