A pesada introdução de Whole Lotta of Love, do Led Zeppelin, já foi comparada ao despertar de um dinossauro. Pois a introdução foi modificada pelo quarteto Obed Calvaire (bateria) Bob Franceschini (sax), Kevin Hays (piano) & Orlando Le Fleming(contrabaixo). Soa agora como se fosse uma gravação perdida das sessões de Kind of Blue, sem o trompete de Miles Davis.
Os quatro mudaram a roupagem riponga do velho Zeppelin. Clássicos da banda, como Kashmir, Immigrant Song, Dazed and Confused, entre outras, ganharam trajes adequados para clubes de jazz nova-iorquinos, no álbum Whole Lotta Love: The Music of Led Zeppelin (Chesky Records). Algumas canções são, a principio, irreconhecíveis, o agudo de Robert Plant substituído pelo piano de Hays torna difícil identificar a melodia, sobretudo quando são acrescentadas notas às nos improvisos. Em Dazed and Confused sai Plant e entra o sax de Calvaire caprichando no improviso.
O Led Zeppelin, que em sua época não era a banda preferida da crítica, já teve sua música regravada em disco inteiros ene vezes, mas quase sempre como tributos cheios de reverência, pastiche, tiradas engraçadas, feito a do Dread Zeppelin, que conduziu o LZ para a praia do reggae. Calvaire, Franceschini, Hays e Le Fleming levam o grupo a sério. Pegam um gancho, que pode ser um riff, um refrão, como ponto de partida e deretorno, e recriam tudo. Quem mais se aproxima do som da banda é o baterista Calvaire, com uma dinâmica na bateria que lembra John Bonham, porém bate de leve.
A sinuosa melodia de Kashmir deixa-se ir para a seara do jazz com facilidade, é uma das melhores faixas do álbum, e mais longa, com nove minutos (as demais ficam entre os cinco e seis), é também a mais facilmente reconhecida. O repertório percorre várias fases do Led Zeppelin, só não chega ao último álbum de estúdio In Through the Out Door. De 1979.
A maioria é sucesso manjado, mas mesmo que assim fossem todas as faixas, as variações que o quarteto empreende são de tal monta, que é como se a gente escutasse cada composição pela primeira vez. O fã raiz do Led Zeppelin certamente irá estranhar. Muitos deles não irão gostar. Mas o grupo não reinterpretou o LZ para adular os fãs, e sim como celebração à música de uma banda que fez história.
OS MÚSICOS
O jazz mais recente (por recente entenda-se o de fins dos anos70 até a atualidade) é muito pouco conhecido por aqui, com poucas exceções, como Esperanza Spalding, ou Kamasi Washington. Os músicos que tocam neste álbum são donos de currículos quilométricos, e alguns nem são tão jovens assim.
O baterista Obed Calvaire, 39 anos, o caçula, tocou com quase todo grande nome do jazz, de Wynton Marsalis, Mike Stern, Dave Holland, Bob Mintzer, Roy Hargrove, entre muitos outros. O saxofonista Bob Franceschini, 60 anos, circula pelo jazz e pelo pop rock, toca com o guitarrista Mike Stern, com Paul Simon ou Willie Colón, e até Celine Dion.
O pianista Kevin Hays,60 anos, é da geração de Omar Hakin e Marcus Miller, com quem formou uma banda no início da carreira. Tocou com muita gente, de George Benson a Chaka Khan. Por fim Orlando Le Fleming é o inglês do quarteto, na casa dos 50, foi admitido na Royal Academy of Music, na Inglaterra, em 1995. Está nos EUA desde 2003, e é um contrabaixista requisitado no jazz de Nova Iorque, embora tenha uma carreira solo bem sólida, e um álbum recente, Romantic Funk: The Unfamiliar, que merece uma conferida.
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