Na segunda metade da década de 70, com as ditaduras militares em vários países do continente, a música popular tornou-se trincheira de combate contra o inimigo comum. Lançaram-se por aqui muitos discos de Violeta Parra, Victor Jara, Mercedes Sosa, Atauhualpa Yupanqui, Inti- Illimani, PabloMilanés, alguns desses gravaram em discos de brasileiros, e vice-versa. Mas do Peru, Colômbia ou Bolívia chegava muito pouco, a não ser em coletâneas, sem maiores informações. Portanto Susana Baca, uma grande cantora daquele país, ex-Ministra da Cultura, presidente da Comissão de Cultura da OAS, folclorista renomada, vencedora de três prêmios Grammy, é uma ilustre desconhecida no Brasil, como foi a cubana Omara Portuondo até participar do Buena Vista Social Club, e dividir com Maria Bethânia, um disco lançado pela Biscoito Fino. Sua discografia é longa, desde 1997, quando foi descoberta por David Byrne, teve vários álbuns lançados pela Luaka Bop, o que lhe abriu as portas para o mercado americano e europeu. Aos 77 anos, Susana Baca está de disco novo, Palabras Urgentes (Real World Records), produzido por Michael League (do grupo nova-iorquino Snarky Puppy), tem algo de Buena Vista Social Club na sonoridade do disco em algumas faixas, certamente porque ela interpreta canções de várias épocas, não apenas afro-peruanas, vai até de tango, e milonga argentinos, Cambalache, de Discépolo (gravada por Caetano Veloso em 1969), E Milonga de Mis Amores, de Pedro Laurenz (de 1937). Ela vai também a Porto Rico, e regrava um clássico de Tite Curet Alonso, a poderosa Sorongo, que traz o jazz para uma levada percussiva caribenha, e intervenções de sax, e ao Equador origem de Negra del Alma, clássico do cancioneiro andino. No disco que carimba seus 50 anos de carreira, Susana Baca, que estudou canto lírico, mas nunca vai a tons altos, numa interpretação sempre comedida e expressiva, troca a celebração pelo ativismo, que a atual conjuntura continental não está pra peixe. Da cantora e compositora peruana Chabuca Grande é La Herida Obscura, que abre o repertório, em que a tradição encontra o contemporâneo, aliás, uma marca do disco. A faixa final do Vestida de Vida, uma daquelas canções pra se cantar junto, termina com um coro feminino e um rapper. Ao longo do disco palavras como revolucion, sangre, indios, negros, escravidão, tudo envolto por belos arranjos, numa esmerada produção num álbum criado entre Cañete, pequena cidade, a 150 da capital peruana, e Nova Iorque. |
Susana Baca, grande dama da música peruana, celebra 50 anos de carreira com um disco engajado

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