Ditadores atraídos por estrelas da música pop

A revista TeenVogue tenta desvendar o que leva astros e estrelas pop, cheios de grana, a se apresentarem em festas particulares de ditadores cruéis e corruptos. Em junho de 2018, uma caravana pop, que incluía Ludacris, Akon, Jeezy e Sean Kingston, esteve na Guiné Equatorial, na África Central. Eles não viajaram para um concerto beneficente, ou para uma convenção da indústria da música. Foram para a celebração do aniversário de Teodoro Nguema Obiang Mangue, tido como um dos mais corruptos do continente, cujo governava a Guiné Equatorial há quarenta anos. Obiang faz parte de governos cleptocráticos, cujos desvios e lavagens de dinheiro são tão avassaladores que encontram dificuldades em gastá-lo. Estima-se que a fortuna dele seja de 300 milhões de dólares.

Obiang gastou parte do dele, adquirindo uma das maiores coleções do mundo de memorabilia de Michael Jackson, uma gigantesca mansão na Califórnia e um jatinho. Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-presidente do próprio pai, cujo governo é acusado de tortura, censura à imprensa, enfim cerceamento de liberdades democráticas básicas. Certamente os astros estrelas do pop e do rap americanos sabiam desta faceta do aniversariante, e devem ter ido pela grana, já que não quiseram revelar os cachês à reportagem da revista.

A cantora e atriz Nicki Minaj (nascida em Trinidad Tobago, no Caribe, radicada nos EUA), esteve recentemente em Angola, a convite de Isabel Santos, cujo pai governou com mão forte o país durante 38 anos, e postou nas mídias sociais elogios ao emponderamento feminino, orgulhosa por estar ao lado da oitava mulher mais rica do mundo, sem citar que Isabel é acusada de maciças lavagens de dinheiro. Pelo visto, ditadores têm preferência pelo pop. Jennifer Lopez cantou para o poderoso chefão do Turquemenistão, e Kanye West numa festa da família do ditador do Casaquistão. Em 2009, Beyoncé, acrescentou dois milhões de dólares animando a festa de réveillon da família de Muamar Kadafi, na Líbia. Aliás, não foi a única. Mariah Carey, Usher e Nelly Furtado já viajaram à Líbia para cantar para os Kadafi e convidados.

A maioria deles garante que doou, ou doaria, o cachê para causas sociais, ou entidades beneficentes. A assessoria de Beyoncé havia doado o que ganhou, enquanto Jennifer Lopez pediu desculpas por ter aceitado o convite (mas não falou em doações). Enquanto Nicki Minaj e Kanye West nem deram satisfações, nem tampouco revelaram que destino teria a dinheirama que faturaram. Ditadores apreciam celebridades de longas datas. Mas para elas a recíproca nem sempre foi verdadeira. Os quatro Beatles quase entram numa fria nas Filipinas, quando se recusaram a ir para uma recepção oferecida a eles por Imelda Marcos, esposa do ditador. Foram vaiados, e deixaram o país, praticamente fugidos, sem proteção de seguranças, e sem receber o cachê.

RACISMO

As estrelas da década de 60, nascida durante a II Guerra tinham, em geral, formação humanista. Os Beatles deram uma prova disto, ao se recusar a fazer shows para platéias segregadas nas cidades do Sul dos Estados. Acabaram colaborando para o fim da prática, com a beatlemania no auge, as autoridades locais não se arriscavam a perder voto ou popularidade, e aceitaram a imposição do grupo inglês. O apartheid na África do Sul suscitou um boicote cultural ao país. E provocou também rachas em grupos, como The Byrds, que aceitou tocar em Johanesburgo em 1968. Gram Parsons saiu da banda por causa disto. E os Byrds ficaram “queimados” no meio, por algum tempo. Chris Hillman, um dos Byrds diz que aceitou tocar na capital da África do Sul porque achou que seria para uma plateia de brancos e negros. Mas o grupo tocou para um público exclusivamente de brancos. Porém, The Byrds não foram os únicos.  A fadista portuguesa Amália Rodrigues, Tina Turner, Ray Charles, Carl Wilson (dos Beach Boys), Dolly Parton, Lisa Minelli, Neil Sedaka e Frank Sinatra, alguns dos furaram o boicote sugerido pelas Nações Unidas em 1968.

Em 1986, Paul Simon estava obcecado pela música de um cassete que ganhou de presente. Até que descobriu que se tratava de um grupo sul-africano, o Boyoyo Boys. Entrou em contato com o pessoal da gravadora na África do Sul e lhe mandaram um pacote de LPs de artistas contemporâneos do país. Simon viajou com um produtor para gravar os sul-africanos, debaixo de críticas, mas o próprio sindicato dos músicos da África do Sul aprovou sua ida.  Ele gravou com músicos negros, boa parte de Soweto, tornou alguns famosos internacionalmente, feito o Lady Smith Black Mambazo. Além disto, deu uma visibilidade imensa à resistência desses músicas contra o apartheid. O disco, Graceland, foi o de maior sucesso de Paul Simon, passou 97 semanas nas paradas americanas, e vendeu 16 milhões de cópias.

(foto de Nicki Minaj e Isabel Santos, reprodução do Instagram da cantora)

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