Robbie Shakespeare, superbaixista jamaicano, menos um dos bons

Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, com o tecladista Franklin Bubble Wall, e o saxofonista Dean Fraser, abalaram as estruturas do Teatro Castro Alves, na apresentação que fizeram na edição de 2003 doo PercPan (Panorama Percussivo Mundial). Robbie entrou batendo tão pesado no contrabaixo, que dava impressão de que as poltronas iam se soltar. Uma das caixas não suportou o trupé. Técnicos correram para desligá-lo. Um dos shows memorável. Em algum desvão de algum HD deve ter uma foto minha com Sly e Carlinhos Brown.

Soube nessa quinta, 9 de dezembro, da morte de Robbie Shakespeare, de complicações hepáticas, na segunda-feira, 7, em Miami. Aconteceram tantas baixas na música nesses últimos dois anos que, de certo modo, as confirmações de falecimentos, mesmo de músicos do porte de Robbie, perigam se banalizar.

Sly e Robbie estimam ter participado de 200 mil sessões de gravação, boa parte nos movimentados estúdios de Kingston. Não seguiram a linha pop de Bob Marley, estenderam os limites do reggae, acrescentando rock e soul à sua música, contribuindo para desenvolver variações como o dancing hall e o dub. Chris Blackwell, dono da Island, sacou a diferença, e passou a incluí-los em gravações de artistas de outros nichos. Sly & Robbie é a cozinha inovadora de Nightclubbing, álbum de Grace Jones, de 1981. Logo estariam produzindo Marianne Fatihfull, Madonna e Sinnead O’Connor, e tocando com Bob Dylan, Yoko Ono, Serge Gainsbourg, Cindy Lauper, Joe Cocker, Mick Jagger e Keith Richards, no álbum Bush Doctor (1978), de Peter Tosh, para quem se tornaram uma contraparte da cozinha de Marley, Carlton e Aston Barrett, o lendário “Family Man” (Aston foi quem incentivou Robbie a tocar baixo).

Como dupla, Sly & Robbie percorreram os mais diversos caminho musicais. Rhythm Killer, de 1987, é um dos mais importantes álbuns da década, totalmente inovador, com produção de Bill Lasswell, tem reggae, mas enfatiza o funk, e faz a ponte com o rap, caprichando na eletrônica. Um método de gravação inusitado. Sly Dunbar gravava as partes de bateria sozinho, sem nenhuma música em especial na cabeça.  Robbie Shakespeare botava o baixo nas levadas de bateria, depois envoltas em camadas de sons de sintetizador. Contaram com uma seleção de convidados, nomes feito Bootsy Collins, ou Bernard Fowler, há anos nos backing vocal dos Rolling Stones. Um discão. Cito apenas um, mas a dupla tem uma extensa discografia. Curiosamente, o último álbum de Sly & Robbie foi Red Hills Road, de 2020.

Red Hills Road, é uma rua de Kingston, onde, nos anos 70, localizavam-se as principais casas noturnas da cidade, cada qual com sua banda. Dunbar e Shakespeare se conheceram na Red Hills Road, e por lá montaram o estúdio One Pop.

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