Pesquisa feita em 2000, sob a égide do Instituto Moreira Salles, no acervo de Pixinguinha, mais uma recente passada de pente fino em material em acervos de compositores e instrumentistas, reuniu uma coleção de mais de 50 composições inéditas, em disco, do autor de Carinhoso (com João de Barros). Parte dela chegou a ser apresentada em programas de rádio. A partir de janeiro um espetáculo, com uma seleção deste repertório, circulará por quatro privilegiadas capitais, Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.
O concerto intitula-se Pixinguinha como Nunca, e tem direção do ator e cantor Marcelo Vianna (neto do compositor), e direção musical do produtor e pesquisador Henrique Cazes, e direção executiva de Lilian Barretto.
Nessa quarta-feira, 22 de dezembro, o CCBB, antecipa o Pixinguinha como Nunca, com uma live, com uma dezena de músicas, todas em versão instrumental, entre elas dois clássicos, Carinhoso e Rosa (esta com Otávio de Souza). Em seguida, um bate-papo com os músicos sobre o modo composicional de Pixinguinha, e como os arranjos foram imaginados para cada instrumento. O concerto será transmitido no canal do Youtube do CCBB, a partir das 20h.
A live acontece no palco do Teatro 2 do CCBBRio, o cavaquinista HenriqueCazes estará à frente de um grupo instrumental de cobras criadas: MarceloCaldi (sanfona), Carlos Malta (flauta e sax), Silvério Pontes (trompete e flugelhorn) Marcos Suzano (percussão) e JoãoCamarero (violão de 7 cordas), MarceloVianna fará uma participação especial. (foto: Marilia Figueiredo)
Henrique Cazes aponta para uma contradição em relação em Pixinguinha. E poucos no país se aprofundaram como ele na obra de Alfredo da Rocha Vianna (1897/1973). Basta lembrar o disco com a Orquestra Pixinguinha, fundada por ele. Que gravou disco em 1988. Por “contradição” ele se refere ao paradoxo de um autor e músico de tamanho quilate ser relativamente menos gravado e estudado do que nomes de menor relevância. E procura explicar certos trechos de sombra na sua obra:
“Pixinguinha é uma figura mitificada, às vezes adorada, mas sua produção musical em si é pouco estudada. Há circunstâncias históricas a considerar. Uma delas, a invasão das big bands americanas no rádio dos anos 1930, e a reação a isso foi transportar tudo o que havia antes para a gaveta do ‘passadismo’. O choro fica velho de um dia para o outro. E de certo modo, submerge para o grande público por longas décadas”. No entanto há um fator que está levando compositores do passado a serem pouco gravados: o custo cobrado pela liberação das composições pelas editoras.
Cazes vê ainda outra questão nessa ausência – cultural: “E, claro, há uma dificuldade de base, a de enxergar um homem negro como criador estruturante, e não como artista espontâneo. Portanto, o estudo de sua produção por muito tempo não se aprofundou na direção da sua finíssima técnica”. Ao formar o sexteto escolha dos músicos que compõem o sexteto do espetáculo, Cazes e Vianna miraram um pouco fora do círculo habitual do choro – “quis montar um som menos convencional, com presenças de Malta e Suzano, por exemplo,”.
A seleção de composições traz uma geral nos gêneros trabalhados por Pixinguinha, choro, samba, polca, tango (Pixinguinha também fez incursões pelo frevo). Das dez inéditas, a mais antiga é de 1917 e a mais recente, de 1965. O projeto vai se estender para mais ações: as peças instrumentais reunidas vão ganhar letras de poetas contemporâneos da música, diz Marcelo Vianna, sem antecipar nomes.
PROGRAMA DA LIVE
Paraibana (Pixinguinha) valsa
Choro em Fá maior (Pixinguinha)
Choro nº 7 (Pixinguinha)
Feitiço (Pixinguinha) samba
Foge de mansinho (Pixinguinha) choro dolente
Luiz tocando (Pixinguinha) maxixe
Lembro-me do passado (Pixinguinha) polca choro
No cacique do Armando (Pixinguinha)
Para não te esquecer (Pixinguinha) choro canção
Jagunça (Pixinguinha) polca vagarosa
Rosa (Pixinguinha-Otávio de Souza)
Carinhoso (Pixinguinha-João de Barro)
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