Koyaanisqatsi, na linguagem etnia indígena hopi, do Nordeste dos EUA, significa “natureza em desequilíbrio. É título de um documentário premiado, e de um disco de Phillip Glass. Em 2022, o doc completa 40 anos, cada vez mais atual (o disco foi lançado em 1983). Face à destruição de florestas, a poluição ambiental, secas e inundações, hordas de miseráveis esfomeados vagando pelas ruas, agora não apenas nas grandes cidades, mas também pelo interior, para citar parte da teratologia de males que assolam o planeta Terra.
Koyaanisqatsi estendeu-se por uma trilogia que abriga as sequencias Powaqqatsi– LifeinTransformation e Naqoyqatsi – Lifeas War. Merecia voltar ao circuito comercial, pela importância que representa ao denunciar, em imagens fortes e engenhosas, o desequilíbrio, que estava acontecendo vertiginosamente na nossa cara, e não se notava. Koyaanisqatsi preconiza o descontrole ambiental que foi perpetrado ao longo de quatro décadas.
Dirigido por Godfrey Reggio, com direção de fotografia Ron Fricke, são empregados artifícios técnicos que enfatizam as imagens, e que seriam extremamente influentes absorvidos pela publicidade, e pelo próprio cinema. O uso mais constante é do time-lapse que criam a ilusão de que nuvens se deslocam no céu mais rápidas do que a paisagem, ou as cidades, carros que trafegam acelerados até se tornarem apenas luzes multicores, ou a prevalência da câmera lenta quando mostram implosões de grandes edifícios.
Os cineastas antecipam o mundo de agora não apenas em desequilíbrio, mas com a sobrevivência dos seres que o habitam ameaçada. As imagens são chocantes e intensificam a beleza da fealdade, como um longo poema sobre o apocalipse. Não há diálogos em Koyaanisqatsi, o que é mostrado fala por si mesmo, a música minimalista de Phillip Glass intensifica a percepção. É uma de suas mais populares, e melhores, peças, mas dissociada do filme, embora continue extraordinária, deixa subjetivo o título Natureza em Desequilíbrio.
Deve-se escutar a música com as imagens que ilustram. Phillip Glass lançou a primeira edição do disco, pela Nonesuch, com menos dois temas da trilha, o álbum ficou com apenas 46 minutos de duração. Somente em 1998, Glass regravou a trilha completa. A esta altura Koyaanisqatsi já era tão popular, ou cult, que o músico entrou em turnê apresentando-a pelos Estados Unidos, porém com as imagens do doc sendo exibidas num telão.
A data redonda certamente terá reedição comemorativa, com recursos mais avançados tanto pra áudio quando pra imagens. Deveria ser exibido em escolas, para crianças e adolescentes, afinal será essa geração que poderá equilibrar novamente o planeta, e impedir que haja uma quarta ou quinta sequências, e essas não serão filmadas, e a trilha será o som do fim do desequilíbrio e do planeta.
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