Nessa segunda-feira, 3 de janeiro do ano da graça de 2022, muita gente vai deletar da agenda suas resoluções para o novo ano. Algumas: ser mais positivo, passar mais tempo com os familiares, beber menos, fazer mais exercícios, usar menos o cartão de crédito em compras online, escalar o ponto mais alto do vale do Catimbau, fazer yoga, largar a terapia, ler mais, tomar menos café na firma, meditar uma hora por dia, sair das redes sociais.
E é bom que isto aconteça, porque se todo mundo cumprisse suas resoluções o mundo se tornaria logo repleto de gente menos ocupada. Mãos desocupadas são, não se ignora, armas pro capirroto. Por exemplo, se a pessoa beber menos, logo diminuirá sua ida a bares, se também resolver emagrecer, acrescente-se também ir pouco a restaurante. Quer dizer passará mais tempo sem fazer nada, e dedicará mais tempo aos familiares. Este essa última resolução, nos tempos de hoje é um perigo, tantas as famílias rachadas politicamente.
A maioria das resoluções, se realmente seguidas, será mais um golpe na economia já frangalhos do país. No Brasil fazem-se pouco estatísticas, aparentemente, bestas. Nos EUA, salvo engano, que vivo salvo enganando-me (e seguidores apontando-me as falhas), Bob Crandall, executivo da American Airlines, contratou um especialista pra calcular a economia que a companhia teria se excluísse uma azeitona de cada refeição servida aos passageiros. O resultado: 40 mil dólares a menos nas despesas. 500 mil se servissem refeições sem azeitonas.
Esta pesquisa foi boa pra American Airlines, mas não pros passageiros em geral. As outras companhias passaram a economizar nas azeitonas, daí em outros itens que serviam a bordo. Logo chegaram à bebida e por aí afora. Acabamos nós passageiros, tendo direito a uma barrinha de cereal com um saquinho de amendoim, e um copinho de gasosa. Uma tristeza isto. No meu primeiro vôo pela Varig, a aeromoça só faltou me botar no colo. Percursos mais longos aeromoças e aeromoços pareciam estar em um hospital, de meia em meia hora acordavam a gente,não pra tomar remédio, mas pra comer e beber à larga.
As empresas brasileiras poderiam fazer uma pesquisa de quanto economizariam se diminuíssem a quantidade cafezinhos permitida a cada funcionário diariamente. Deve ser uma economia monstra, e um déficit na indústria cafeeira. Sem bem que devem ter feito, e não divulgaram o resultado. Há cada vez mais firmas com maquininhas de café que só funcionam com moedinhas. E coitados dos restaurantes, bares, botecos e afins, que passaram esses dois últimos anos mais por baixo do que barriga de cobra. Se a clientela seguisse a resolução de beber e comer menos afundariam ainda mais na crise. Eu pelo menos vou contribuir para que a crise neste setor da economia não recrudesça. A única resolução que fiz pra 2022.
Obs – retomo cá, a crônica dominical que escrevi no Jornal do Commercio, de 1993 a 2020.
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