Devil In Her Heart, de Richard B.Drapkin, é a mais obscura e estranha canção gravada pelos Beatles. Também é resultado de horas e mais horas em que os quatro passavam escutando dezenas de compactos, discutindo as músicas, os arranjos, e fazendo as próprias versões. Tony Bramwell, amigo de Paul e George na adolescência, depois de John e Ringo dos Beatles, conta que os dois iam muito a casa dele, pra pegar emprestados discos dele e dos irmãos (levavam os seus pra emprestar). Antes ficam por lá durante horas botando disco pra tocar.
Em 1962, quando começaram a ganhar dinheiro compravam compactos por metro. Um cara chamadoRon Ellis, que conheceram quando gravaram o primeiro single pela Parlophone, se tornou o fornecedor de novidades americanas para o quarteto. Ellis, que já trabalhava no showbizz inglês, encomendava a Ronnie Kellerman, um amigo dos EUA, montes de discos. Não apenas os de sucesso, na época a Motown dominava as paradas, mas igualmente o de nomes menos badalados, contratados de selos pequenos e obscuros.
Um desses trazia a canção Devil in His Heart na lado A, com o grupo feminino The Donays, que a lançou em 1962. A música passou em branco. Teria se tornado, quando muito, item de colecionador de discos antigos. O grupo, de Detroit, formado por colegiais, nem existia mais quando o compacto caiu nas mãos de George Harrison, que a incluiu no repertório do álbum With The Beatles. As garotas tornaram-se notícia. Foram imediatamente reunidas, realizaram a primeira turnê, e ganharam um contrato com a Motown. No entanto, não gravaram mais nada,e voltaram se separar.
George mostra firmeza e maturidade no vocal, e John e Paul capricham nos vocais de apoio. O solo de guitarra é feito em cima da gravação original, que tem levada meio abolerada, mas com os Beatles é um pop rock and roll. A versão deles também troca o pronome masculino, “his”, pelo feminino “her”. Curioso, a zelosa BBC não censurar uma canção com o título de Ela Tem o Demônio no Coração.
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