2021: discos autorais, regravações, palcos, e ousadias em meio à pandemia

Só no site Tenho Mais Discos do Que Amigos (https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/) vi uma lista de 50 discos de destaque em 2021, boa parte de gente que está entrando em cena, e que eu desconhecia, ou talvez tenha recebido msg de assessoria, e passei batido. Se o advento do CD facilitou ao artista ter um disco gravado, o digital escancarou. Os custos foram barateados, pelos avanços tecnológicos, e mesmo que a remuneração seja ínfima nas plataformas de música para stream, ele está lá, e tem chances de ser conhecido por um produtor, por um artista influente etc.

Das tantas e tantas msgs de assessorias enviam, boa parte é divulgando singles. Um single é uma agulha no palheiro, uma música entre milhões de outras. O conceito é do antigo compacto, mas centrado nas plataformas digitais. O compacto foi criado para adolescentes curtirem sua própria música, na vitrola portátil, um recurso pro guri escutar disco no quarto, sem aporrinhar os adultos. Foi o grande impulsionador do rock and roll. Mas era bem mais fácil de chegar ao consumidor do que os Spotfy da vida. Tocava no radio, como música de fundo de TV, em radiolas de ficha. Postei sobre poucos singles,

Em 2021 assumi oficialmente a função de garimpeiro musical. Navego pelos mais diversos sites e blogs, experimentando o cardápio sonoro de cada um. Foi na página da revista Downbeat descobri a cantora Veronica Swift, e o álbum This Bitter Earth, uma das melhores vozes que escutei em 2021. Outra voz formidável foi a de Ayrton Montarroyos, que apresentou 20 lives entre 2020 e 2021, cinco delas lançadas como álbuns digitais, na base da voz e piano, ou voz e violão. Oposta ao suave timbre vocal de Montarroyos, é o da voz de lixa de Jorge du Peixe, reinterpretando Luiz Gonzaga com originalidade, ousando, mas com reverência.

No segundo ao atípico, de protocolos sanitários, os músicos não hesitaram em fazer o que lhe viesse à cabeça. Foi muito comum nesse 2021, discos com regravações, dedicado à obra de um único autor, ou de autores de épocas e estilos diferentes. Foi o que fez Céu em Um Gosto de Sol, um dos melhores discos de Covers da temporada. E uma temporada para paladares variados, que teve disco mais complexos, o aclamado Sankofa, do pianista Amaro Freitas, com carreira já demarcada no universo do jazz, cá e lá fora, ou Esperança, com a Charanga de França, projeto paulistano do saxofonista Thiago França (do Metá Metá).  Mais ou menos, na seara da Charanga, é Uns, disco solo do guitarrista Pedro Sá. Projeto de peso, lançado pelo Selo Sesc, em meados de dezembro,Toda Semana: Música e Literatura na Semana de Arte Moderna, para celebrar o centenário da Semana da Arte Moderna. 

São muitos os discos do pessoal surgido nos anos 2000, não dá pra citar tudo que ouvi e gostei, que o pessoal esteve o tempo todo no batente, feito a turma da Avoada, Juvenil, Marília, Marcelo e Julião, com álbuns e singles, e shows. Os veteranos, tementes à covid, botaram as unhas de fora. Meu Coco, de Caetano Veloso, um dos melhores, senão o melhor, disco de 2021, Marisa Monte depois de uma década sem disco de voltou com gosto de gás com Portas, afirmacionista, um lufo de otimismo em meio a nuvens plúmbeas. Jards Macalé e João Donato, despiram-se para a capa de Síntese do Lance. Juçara Marçal, com outro disco tamporoso, Delta Estácio Blues, de elogios unânimes da crítica, igualmente muito bom é Jobim Forever, sutis reinterpretações de composições de Tom Jobim (e parceiros).

Em 2021, os palcos foram liberados, mas com controle, obedecendo a normas sanitárias. E se deu algo curioso. Ingressos esgotados, no Teatro do Parque, para os shows do Em Canto e Poesia, grupo que tem por base a cantoria de viola, e MPB e Martins e Almério, o primeiro canta e compõe, e foi gravado no último disco de Ney Matogrosso, o segundo lançou Tudo É Amor – Almério Canta Cazuza (com participação do supracitado Ney). E uma das melhores vozes do país, a de Geraldo Maia, encantando o público do The Voice Brasil. O frevo ganhou o primeiro prato de bateria específico para o gênero, o Domene Cymbals Signature Augusto Silva (foto) com lançamento no Paço do Frevo, instituição que está fazendo muito por esta música pernambucana. Enfim, foram tantas as emoções, mas não dá para registrar tudo numa retrospectiva. Perdão aos que ficaram de fora, mais ainda aos que não tive tempo de escutar ou de assistir. Aliás, me lembrei agora do pouco conhecido Madu, com Estudando Tom Zé, e o próprio Tom Zé que criou a maiorias das músicas do disco que lança em março, feitas para o espetáculo Língua Brasileira, de Felipe Hirsch.

5 comentários em “2021: discos autorais, regravações, palcos, e ousadias em meio à pandemia

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  1. Martins, você como músico e letrista, é fera, é ícone da nova geração de novos talentos. Você não é isso porque nasceu no Recife; você é fera porque a Natureza lhe deu esse dom magnífico que está sendo reconhecido e cultuado no mundo todo.

    Meus parabéns pelo talento musical!

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      1. Teles,

        Fazer sucesso sem tocar no rádio vai ser uma tendência natural para o artista que tem talento, como é o caso do extraordinário Martins e de outros feras que estão surgindo no Brasil inteiro.

        A gente tira essa lição dos grandes filmes de faroestes, alguns clássicos musicais, frevos e forrós…

        Quantos filmes de westerns não fizeram a nossa cabeça só por tomarmos conhecimento em notas de jornais?

        Era Uma Vez No Oeste é o maior exemplo do que estou afirmando. Faroeste subgênero num instante ganhou notoriedade na Itália, conquistou o mundo e a crítica.

        Basta ter talento para não precisar da LEI ROUANET!

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