Faz um tempo que não vou ao bairro do Recife à noite. Não sei se já iluminaram o parque de esculturas, de Brennand, ou pelo menos a maior da esculturas, a que o recifense trata carinhosamente por “pirocão. Espero que sim. Duvido que qualquer cidade relegasse à escuridão uma obra de arte tão avantajada.
Os casais que vão tirar selfies no Marco Zero ficariam muito mais emotivados, e românticos, se trocassem juras de amor vendo o parque iluminado. Talvez não esteja porque a energia tá tão cara, que apagaram até a luz no fim do túnel.
Mas iluminar o pirocão e demais obras de Brennand não é gastar, é investir. O turista é um ser humano que se abestalha por qualquer besteira. Vendo o parque cheio de luzes obviamente iria ficar ainda mais abestalhado. Não pelo pirocão, mas pelo conjunto da obra, incluindo a praça do Marco Zero e aqueles prédio tamporosos que ficam por perto.
À noite, não iluminado, a gente só sabe que o parque tem esculturas ali porque já sabe que tem.
O Recife já uma cidade antiguinha, então tem umas antiguidades que atrairia turistas. Eu nem gosto de turista, nem de fazer turismo, mas o turista traz dinheiro pra gastar, geralmente com coisas que depois ele se pergunta pra que foi que comprou. Outro dia fui ao Pátio de São Pedro. Uma desolação só. E eu gosto de lugar derrubado. Bar pra pra mim, só teria eu e o garçom, a uma distância razoável, e falando o indispensável.
O Pátio de São é um lugar pra cenário de filme, mas não aconselho ninguém a ir por ali à noite desacompanhado.
Se o Pátio é bonito, a avenida N.S do Carmo, a padroeira do Recife, também daria cenário de cinema. Aquele clipe de Michel Jackson, cheio de malassombro, ele dançando à frente, poderia ter sido rodado lá. Mas não é só a avenida, o Centro do Recife à noite é espantoso.
Sai do Santa Isabel, depois de um show, e me bateu a curiosidade. Andei até a Guararapes, umas dez da noite. Talvez o Afeganistão do Talibã seja mais ameno.
Desci pela Guararapes até a ponte Duarte Coelho. Ao lado da escultura de Capiba , um pastor montou, na calçada, um templo ao ar livre. Conclamava o pessoal pra largar a vida de orgia se quisesse ir pro céu. Foi uma boa dica. Já tava ali, fui caminhando, agora numa área com mais movimento, porém, não menos desafiadora, até a rua do Bar Central, também conhecida como Mamede Simões. Ali perto eu vi a luz. Ou melhor, luzes. Da Assembleia Legislativa, enfeitada para o Natal, com música a todo volume. Depois da luz, uma haiki, bem gelada, pra comemorar a intrépida caminhada. (esta crônica é de seis anos atrás, na coluna que eu escrevia no JC aos domingos. Pelo que sei, o Recife continua lindo, mas embaçado)
Foto: Pátio do Carmo, tirada por mim mesmo, e milagrosamente, mais ou menos, bem focada
O abandono do Recife é um investimento dos empresários sonos dos imóveis. Daqui a dez anos, a gentrificação vai expulsar os miseráveis da cidade. Janguiê tem 50% da Guararapes, pelo menos.
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nao só do centro. Boa Viagem só falta o canal do shopping é o nosso rio ganges
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Encontramos no Central quando essa foi publicada no JC! kkkkk
Só perde pra Nova Dheli, por conta dos bois, vacas, cobras e macacos transitando e convivendo junto!
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correto. Na índia só quem come vaca é o boi
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então, kkkkk, marminino! A cobra, só quem come é o cobro, a macaca, o macaco…
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Nada mais justo do que os empresários ocuparem o centro, resgatando-o, modernizando-o, dando-lhe a dignidade urbanística merecida.
Não se pode deixar que o Centro fique como um ambiente de faroeste onde o povo cagava na valetas e o cinema glamourizava.
Que Janguê faça logo essa reforma imobiliária revolucionária. O Centro precisa e com urgência. O Brasil. Aliás, o Centro do Recife não pode dormir feito os índios na taba, chorando em cima do ouro.
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claro. Me refiro abandono das ruas, dos logradouros, da sujeira, da falta de policiamento, pessoas lavando roupas na fonte d’água na pracinha do diário
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Acho sensacional e torço bastante para o Janguiê transformar o centro do bairro de Santo Antonio numa cidade universitária privada! Os motivos para isso e as vantagens decorrentes são enormes, incalculáveis mesmo!
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Essa crônica é uma homenagem melancólica a um Recife desprezados pelas “otoridades”.
O último baluarte que amou o Recife foi Brennand com seu pirocão, mas de lá pra cá até os mendigos, cheiras colas MSTs e outros apaches deram lavrando e o Recife antigo se afundou.
Quem vai ter a coragem de erguê-lo? Talvez nem os ETs, que estão entertidos com os grupos de Zap.
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hoje fui ao centro. Um horror
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