É provável que Amy Winehouse não tivesse se tornado num mito exuberante da música pop não fosse por Ronnie Spector (nascida Veronica Bennett), cantora americana que teve sua morte anunciada nessa quarta-feira, em seu site oficial, em consequência de um câncer. Ela completaria 79 anos em, agosto. No seu disco de estreia, Amy Winehouse, foi comparada às mais diversas cantoras de soul e rhythm and blues que vieram antes dela: Nina Simone, Erykah Badu, Sarah Vaughan, Dinah Washington. Em Back to Black, não se teve dúvidas. O modelo era Ronnie Spector, do penteado colméia de abelha, a pintura nos olhos até a música, e arranjos inspirados (para dizer o mínimo) de Phil Spector, de quem Ronnie ganhou o sobrenome (os dois na foto)
Para dar uma ideia da dimensão de Ronnie Spector, em 1971, contratada pela Apple, a gravadora dos Beatles, ele estreou com uma canção de George Harrison, Buy Some, Try Some, que produziu e tocou no disco, com participações de Ringo Starr e John Lennon. Os Beatles eram grandes fãs dos grupos de garotas, regravaram alguns sucessos de grupos, feito The Shirelles. John Lennon fez uma gravação de Be My Baby durante as sessões do álbum Rock ‘n’ Roll, como uma espécie de carta de amor para Yoko Ono, de quem estava separado. Esta versão somente teria lançamento oficial em 1998, no Anthology solo de Lennon.
Grupos de garotas americanos, do começo dos anos 60, legaram um dos mais perfeitos repertórios da história da música pop, assinados por um time de compositores profissionais, tão jovens quanto as intérpretes, Caroline King, Neil Sedaka, Jeff Barry, Ellie Greenwich etc. A Ronettes era um grupo familiar. As irmãs Ronnie e Estelle, e a prima Nedra Talley. Começaram fazendo backing vocals, em shows, programas de rádios, até serem descobertas por Murray the K, um disc-jockey, de Nova Iorque, que chegou a ser conhecido como o “quinto Beatle”.
Não seguiam a linha garotas submissas da grande maioria dos girls group. Vestiam-se com sensualidade, apresentavam-se com sensualidade e interpretavam com sensualidade. Be My Baby, o primeiro e arrasador sucesso em 1963, produzido por Phil Spector, é uma cantada no boy. Não era comum isto, num tempo em que The Crystals fez sucesso com a hoje impensável He Hit me and It Feel Like a Kiss (Ele me bateu e aquilo foi como um beijo), do casal Gerry Goffin e Carole King.
Em 1964, com os Beatles arrasando nas paradas americanas, a Ronettes lançou um álbum que as levou para turnê na Inglaterra. Os Rolling Stones abriram para o trio. Elas Abriram para os Beatles, que abriu para Eric Clapton. As meninas era ídolos de toda realeza do pop britânico. Não apenas abriram como namoraram. John deu em cima de Ronnie Spector, mas não funcionou, em compensação, tornaram-se grandes amigos. Estelle namorou com George, para aflição do empresário Brian Epstein, que temia que o relacionamento interracial pudesse prejudicar os Beatles, numa Inglaterra ultraconservadora. Keith Richards e Ronnie formaram um par fugaz, enquanto Mick Jagger ficou com Estelle.
Ronnie Spector foi inspiração para ene cantoras (Tina Turner, uma delas), pioneira em destilar sexy appeal no palco e em fotos. Mas na prática a teoria era outra. Ela viveu anos de horrores com Phil Spector (que foi preso por matar uma namorada. Morreu na prisão, em 2021, aos 81 anos). O produtor era um maníaco paranóico, que cercou de arame farpado a casa em que morava com Ronnie Spector, não permitia que ela fizesse shows, jogou fora todos os seus sapatos para a mulher não saísse. E só permitia que deixasse a casa de carro, levando no banco do carona um boneco em tamanho natural, simulacro de Phil. Ele costumava apontar armas para ela, e mantinha, no porão, um caixão dourado, com tampo de vidro, para o caso de matá-la. Estas histórias macabras ela conta na biografia Be My Baby (1990). Vicissitudes à parte, Ronnie Spector é mais uma lenda do pop dos anos 60 que sai de cena.
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