O disco do domingo : Elza Soares Pede Passagem (Odeon), de 1972. Uma tentativa de a cantora atualizar o repertório e o estilo. Aliás, neste mesmo ano ela lançou um disco com o sambista Roberto Ribeiro, Sangue, Suor & Raça, só com sambas. Pede Passagem tem todos os arranjos assinado por Dom Salvador (então no Grupo Abolição), e produzido por Milton Miranda e Jorge Santos. Elza gravou uma maioria de compositores então bastante requisitados. Abre o repertório, por exemplo, com Cheguendengo, de Antonio Carlos & Jocafi. Em seguida, vai de samba rock (que não tinha este nomenclatura na época), Saltei de Banda, de Luiz Carlos Sá: “Eu Já morei na tal da feira moderna/mas saltei de banda/e hoje sou meu próprio patrão/e ninguém me manda”.
Elza estava em época conturbada da vida. Continuava visada pelo regime, ainda era apontada na rua como destruidora de lares, de ter destruído a carreira de Garrincha (quem acabou a carreira de Mané, foi ele próprio, e a cartolagem). Quando fazia uma temporada no TBC, no Rio, recebeu uma ameaça de morte. Alguém avisava que ia atirar nela em pleno palco. Tentou-se envolvê-la numa negociata de uma corretora de dólares, o que poderia impedir que Elza Soares deixasse o país (aí precisou gastar com advogados).
Abre Passagem pode ser entendido como “Não abro nem prum trem”. O disco é pra cima, com sambas como O Gato (Gonzaguinha) ou Pulo Pulo, de Jorge Bem (ainda longe do “Jor”), uma interpretação em que Elza dá um banho de suingue, com um naipe de metais reforçando. Uma da melhores faixas, Amor Perfeito,de Billy Blanc, com um balanço a Jorge Bem. Têm ainda composições de Tuzé de Abreu (Barão Beleza), João Só (Samba da Pá), e da badalada dupla Vinicius & Toquinho (Maria Vai Com As Outras). O disco termina com Mais do que Eu (João Nogueira) , um recado para quem o tribunal da moral e dos bons costumes: “Não quero ser mais que ninguém/talvez igual ou menos/só quero ser mais do que eu/que eu, que eu, que eu”.
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