O maestro Heitor Vilas-Lobo recebeu tratamento de chefe de estado quando veio reger concertos, entre os dias 5 e 15 de julho de 1934, na capital pernambucana. Várias bandas militares fizeram-se presentes no cais do porto. Todas de uniforme branco. A Banda de Clarins do Esquadrão da Brigada Militar postou-se no armazém sete do cais, para anunciar a entrada no porto do Cuyabá, do Lloyd Brasileiro, que trazia o maestro. As várias bandas, ao mesmo tempo, atacaram um dobrado no instante em que o navio iniciou as manobras de atracação. No momento em que Villas-Lobos pisou o solo pernambucano, as bandas tocaram, novamente em conjunto, o dobrado Recordação do Meu Brasil.
Autoridades civis e militares perfilaram-se para cumprimentar o maestro. Em seguida ele entrou no carro do interventor, à frente de um cortejo seguido por automóveis trazendo músicos a maestros, entre os quais o carioca Ernani Braga, que fundaria o Conservatório de Música em Pernambuco, tendo ao seu lado o Maestro Zuzinha. Em outro carro iam os maestros Francisco Picado, João Cícero e Manuel Augusto. Sucederam-se várias cerimônias, umas boas vindas, regada a champanhe, na Pensão Palácio, abrindo uma programação extensa. O cortejo seguiu para o palácio do interventor pelo trajeto Avenida Rio Branco, J. Pessoa, Rua Nova, Praça Joaquim Nabuco, Rua da Concordia. Em todo trajeto as fachadas das lojas embandeiradas, em homenagem a Villa-Lobos.
Dentre os maestros com quem conversou, Villa-Lobos se impressionou com o Maestro José Lourenço da Silva, o Capitão Zuzinha. Porém achou que ele precisava se aperfeiçoar, passar um tempo estudando no Conservatório no Rio. Em 1935, O maestro Zuzinha viajou à capital federal, com o Jazz Band Acadêmico, e a cantora Leda Baltar. A função do maestro Zuzinha era prover os arranjos do repertório do Jazz Acadêmico. Foi imbuído de outra tarefa: reger a orquestra da Rádio Tupi na gravação de dois frevos e dois maracatus, para discos encomendados pela Federação Carnavalesca Pernambucana. Villa-Lobos apareceu num ensaio dos músicos pernambucanos e apresentou o maestro Zuzinha ao professor do conservatório que iria lhe ensinar as matérias em que Villa-Lobos considerava que o pernambucano ainda não era muito bom.
Zuzinha e o professor mantiveram uma conversa inicial para quebrar o gelo. O futuro professor começou: “O senhor precisa aprender isso aquilo, as orquestrações orfeônicas diferem das orquestrações comuns. Por isso, e por aquilo é conveniente o senhor estudar este ponto, aperfeiçoar-se neste outros. Quando finalmente terminou o papo didático, o maestro Zuzinha, que era meio gago, disse: “Mas espere, é isto que eu venho aprender aqui? Ora, pensei que fosse outra coisa. Isso tudo eu ensino aos meus alunos há mais de dez anos.”
(o relato do encontro entre Zuzinha e o futuro ex-professor foi contado por Theóphilo de Barros Filho, então integrante do Jazz Acadêmico na época, em matéria publicada em O Cruzeiro).
Maestro José Lourenço da Silva, Zuzinha (Catende, 1889/Recife, 1952), em 1916, passou a reger a famosa banda Saboeira, de Goiana (que completa 173 anos em 2022). Em seguida foi para o Recife, onde ingressou na Polícia Militar de Pernambuco, Como compositor foi autor de dobrados que marcaram época. Segundo o jornalista Mario Melo (1884/1959) Zuzinha é autor do primeiro frevo de rua que definiu as características do gênero, que fez a tansição entre a marcha-polca e a marcha pernambucana, ou seja, seria o pai do frevo. Esse frevo foi gravado pela Rozenblit com o título de Divisor de Águas, no LP Carnaval do Recife Antigo – Fanfarra de Clube (1956).
Na foto, reproduzida de O Cruzeiro, o Maestro Zuzinha rege a orquestra da TV Tupi no estúdio de gravação, no Rio.
Passo a ver a Rua Capitão Zuzinha com mais simpatia…rs
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o recife tem esta peculiaridade. Muitas das ruas com nome de militares, feito Tenente João Cícero é de maestros das bandas militares, e autores de frevos.
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