Chico Science: no meio do caminho tinha um carro. Tinha outro carro no meio do caminho

Início da noite do domingo. Ainda sentia os efeitos de uma soneca de que acordara, mais ou menos, uma hora atrás. Uma amiga me ligou, e perguntou: “Soubesse?”. Eu: “De quê?”. Ela: “Chico Science morreu”. Isso foi há 25 anos, completados hoje. Deu um branco. Não consigo me lembrar o que fiz, minha reação. Se liguei para alguém, ou procurei na TV alguma noticia. Não ligaram do jornal, porque naquela época, os cadernos de cultura fechavam, a maioria das páginas, na quinta-feira. O pessoal que estava de plantão se encarregou do factual. Nos meus arquivos deve ter a matéria que fiz na segunda-feira.

Não me recordo a última vez em que eu e Chico conversamos. Não nos víamos com frequência, sobretudo depois do lançamento do álbum Da Lama ao Caos. Quando voltavam de uma turnê, quase sempre, o empresário Paulo André promovia um bate-papo, com a gente, pra se saber das novidades. Teve um desses, encontros, acho que na volta da turnê do Afrocibederlia, que aconteceu num rodizio de caranguejos na Domingos Ferreira.  Eu, Paulo Andre, Chico e Jorge. Na base do papo e da cerva. Um casal rotundo, numa mesa próxima, ocupava-se dos crustáceos. Devoraram ambos a população de um manguezal. No auge do manguebeat entrou em moda bar com caranguejo no cardápio, havia por todo canto da  cidade.

Será redundante tudo o que escrever sobre esses 25 anos sem Francisco de Assis França, então com 32 anos, no auge da criatividade, ainda no segundo álbum com o Nação Zumbi. Muitos planos e projetos na cabeça.

Uma coisa até hoje me intriga. Chico ia pra Olinda, num Fiat Mille, numa velocidade de 80 km, acima do permitido onde dirigia, mas não muito. Os exames toxicológicos deram totalmente negativos. Ele não perdeu pura e simplesmente o controle do carro, e bateu num poste, no complexo de Salgadinho. Outro carro desviou sua rota. Nas conclusões finais do parecer técnico, assinado por dois peritos criminais, afirma-se, claramente:

 a) : “ Que no dia (02-02-97) por volta das dezenove (19h), em via de acesso denominada Av. Agamenon Magalhães (sentido Recife-Olinda) houve ocorrência de trânsito envolvendo o veículo autopasseio do tipo Mille – da marca Fiat –  com placa de matrícula KHH – 7486/PE, com um outro veículo de cor azul, e de placa e condutor não identificados”. Em tempo, o veículo azul vinha de Olinda

Ou seja, se não fosse esse outro “misterioso” veículo de cor azul, de placa e condutor não identificado,  lhe desviar a rota, Chico teria brincando naquela noite em Olinda, continuaria fazendo música, shows. Na semana pré, do carnaval de 1997, reforçaria o bloco na Pancada do Ganzá. Esse bloco foi criado por Antonio Nóbrega para encarar a axé music, que mandava então na folia da Avenida Boa Viagem, munido de frevos e cultura popular pernambucana. Science era um dos seus convidados. A orquestra que acompanharia Nóbrega era o embrião da Spokfrevo Orquestra.

A foto que ilustra a postagem é de junho de 1991. Não identifiquei o fotógrafo.

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