Autores de frevos, sem espaço na Rozenblit, foram pioneiros em discos independentes

Há 60 anos, entrava em cena uma nova geração de autores de frevo, responsável não apenas por uma oxigenação do gênero, como também por uma inovação. Com dificuldade de passar pelo seleto funil da Mocambo/Rozenblit, passaram a bancar seus próprios discos. O que nos anos 70, era conhecido como “disco independente”, na época chamava-se “gravação particular”. A maioria era feito na própria Rozenblit, mas com outro selo no rótulo.

Daquela geração faziam parte Manoel Gilberto, Getúlio Cavalcanti, o potiguar Dozinho, Jocemar Ribeiro, entre outros. Mas o artista que marcou essa época foi Arlindo Melo, alfaiate por profissão (estabelecido no Edifício Seguradora, em Santo Antônio.  Aliás, ele inovou também pagando o jabaculê com roupas feitas por ele. Na sua biografia, Último Regressos (de Carlos Eduardo Amaral, CEPE), Getulio Cavalcanti conta que Arlindo Melo gravou um frevo canção inédito dele, pagando-lhe dois ternos pela autorização para gravá-lo.

Melo foi inicialmente conhecido como cantor, o novo Augusto Calheiros. Cantava na Rádio Clube de Pernambuco, e participava de caravanas de artistas do rádio que se apresentavam em cinemas do subúrbio. Como todo compositor pernambucano, ele não resistia ao frevo, que gravou e compôs em profusão. Em 1966, já somava 25 gravações, 40 mil discos vendidos, e disputava a posição de Melhor Cantor do ano com Artiz Artoni e Luiz Carlos, ambos da turma do iê-iê-iê recifense.

Arlindo Melo era “frilance”, como se grafava então. Gravava na Rozenblit, mas com selos como o Capibaribe, ou Apolo. Isto nos lançamento avulsos, o que hoje tem o nome de single. No caso de LP um pool de cantores e compositores bancava, ou do próprio bolso, ou através de patrocinadores. Foi assim com o hoje raro EP, divulgado na época como “mini-long playing” Seleção de Ouro, produzido para o Carnaval de 1969, que reuniu entre outros Arlindo Melo (com Bacalhoada, de Sebastião Lopes), Mario Filho (Não Chora Palhaço), Mozart (História do Carnaval).

Foram artistas como Arlindo Melo que tocaram o frevo quando a Rozenblit foi afundando em crises financeiras, o carnaval abrigou-se nos clubes. Se as rádios já tocavam pouco frevo, piorou com a chegada das emissoras que transmitiam em frequência modulada, as FMs. Surgiram os radinhos com faixa de FM, que virou moda. As FMs eram assumidamente elitistas. Nos primeiros anos não tocavam brega, música popularesca. Surgiu até a divisão entre os artista. Artista de AM era quase um insulto. O frevo passou a música de AM, não era tocado em FM.

Mas os compositores de frevo continuaram gravando. Em 1982, Arlindo Melo lançou o LP Ecos do Carnaval Volume 25 – Arlindo Melo, Para Sempre Arlindo Melo. Um álbum com arte tosca, como há muitas nesses anos em que o frevo esteve por baixo. Na contracapa dois patrocínios: Drogaria São José (desejando aos seus clientes um feliz natal, um próspero ano novo, e um bom carnaval) e do Clube dos Motoristas de Caminhão de Vitória de Sto Antão. As 16 músicas foram gravadas na Rozenblit, com a orquestra regida pelo maestro  Correia de Crasto, e arranjos dele, do maestro Duda. Se tocou, foi muito pouco. Ficou o registro, hoje, raro.

No fundo, Arlindo Melo, forçando a barra por amor ao frevo, mas exercendo outros ofícios (na citada biografia diz-se que ele também foi agiota), não diferia dos intérpretes e autores que figuravam no suplemento carnavalesco da Rozenblit. Nenhum vivia do que lhes rendia o frevo. Ou trabalhavam nas emissoras de rádio da cidade, fazendo shows pelos subúrbios, gravando comerciais, ou tinham um emprego seguro, casos de Capiba ou Carnera, funcionários do Banco do Brasil.

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