Blocos no carnaval de 1922 não eram só de frevos e violões: iam de coco e berimbau

Há cem anos os blocos carnavalescos firmavam-se na folia recifense. Surgidos em 1919, surgiram para permitir que as senhoras e moças de “família” brincassem nas ruas, o que era impossível em troças e nos clube pedestres, onde o “frevo” era pesado, e seguidos pela malta, que compreendia desde trabalhadores braçais ao capadócio (muitos deles capoeiristas), que estava ali mais para brigar do que brincar. Os blocos, com acompanhamento ameno de pau e corda (embora nos maiores houvesse também os metais), permitiam que em 1922 fossem fundadas agremiações apenas de moças, feito o Bloco Belas Pequenas, idealizado por nove jovens, na Rua das Hortas, 355.

O Andaluzas (citado em Valores do Passado, de Edgard Moraes), um dos grandes da época, só na diretora era formado por dezenas de mulheres. Um trecho da letra do hino em 1922: “Reparem bem que o nosso bloco/tem castanholas e tem pandeiro/quanto é bela a harmonia/somos os Andaluzas em folia”. O hino do recém-fundado bloco É Disso Que Eu Gosto, composto por “distintas famílias”, tinha como hino um one-step, um gênero dançante americano. O carnaval tal como o conhecemos, ou conhecíamos, teria seu formato sedimentado nos anos 30. Nos anos 20, o que chamamos de frevo ainda era a música do povão, ou poviléo, como se escrevia então.

O bloco Segura o Talo (que não é, claro, o mesmo da Fundaj) tinha orquestra, na verdade, um conjunto com uma curiosa instrumentação: “violão, flauta, pandeiro, triângulo, reco-reco, bombardino e berimbau.

Um século atrás, “frevo” ainda não designava a música, mas o rebuliço que ela, a marcha pernambucana, provocava. E nem só marcha animava o carnaval. Em fevereiro de 1922 anunciava-se a fundação do bloco Inocentes do Coqueiral, por integrantes do Coqueiral Sport Club. Os foliões prometiam sair às ruas com um repertório de cocos, modinhas etc: “O reco-reco e o triângulo entrarão em franca atividade”. Já o Bloco dos Mistérios, formado por moças da Rua da Glória, também não era só da marcha: “As meninas da Rua da Glória estão perdidas. Cada dia apresentam um coco mais gostoso” (no Jornal do Recife).

Mas os blocos da década de 20 não surgiram apenas para as mulheres caírem na folia. Mas também para os ricaços brincarem na rua com seus pares, com certeza, devidamente protegidos. Para tal foi fundado, em 1921, o bloco Vernun e Marne (duas cidades francesas onde aconteceram batalhas célebres da I Guerra Mundial). Era formado por bacharéis, médicos, comerciantes, jornalistas, neste caso não repórteres, ou colunistas, mas dono de jornal. O vice-presidente do Vernun e Marne era Thomé Gibson, político e dono do Jornal Pequeno, com edições em várias cidades do país, e em Lisboa.

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