Não tem carnaval, mas deve rolar entrudo na periferia

Na foto, um flagrante de banho involuntário de passageiros de um coletivo no carnaval (anos 70). As bombas de PVC substituíram as lanças de plástico, que se vendiam nos tabuleiros de camelôs pelas rua da cidade. Remanescentes do entrudo, que chegou ao Brasil com os primeiros portugueses. Água e farinha de trigo foram as armas do entrudo, o mela-mela, até saudável e divertido. Quer dizer, dependendo do humor de quem tomava um banho de água e farinha, O inglês Henry Koster, que esteve no Brasil em 1816, incluiu no seu livro Viagens pelo Brasil a brincadeira do entrudo em duas casas em Bom Jardim, no Agreste pernambucano. Numa delas, um homem que não queria ser molhado, levou um banho e ameaçou furar gente com uma faca.

De tempos em tempos proibia-se o entrudo. Bem policiada, na área central da capital pernambucana viam-se poucas manifestações de mela-mela. No subúrbio a brincadeira continuava: “A polícia como de praxe proibiu na cidade, pelo carnaval, o brinquedo do entrudo, não se registrando, felizmente, nas principais ruas, nenhum caso de infração a esta determinação. No subúrbio da Torre, porém, não se verificou o mesmo. Vendo-se ali o emprego da goma, farinha do reino, água e outras substâncias proibidas” (Jornal Pequeno).

Entre as substâncias proibidas podia haver algumas perigosas. Nesse carnaval, um desconhecido atirou um pó branco no menor Armando Costa Carvalho, que o deixou com extensas queimaduras na pele. No hospital constatou-se se tratar de ácido. Não adiantavam as proibições, o que se sucedia quase todos os anos, porque o entrudo nunca se limitava á água e farinha de trigo. Virava vale tudo, com lama, água de esgoto, o que desse para emporcalhar o próximo.

Foi assim com as antigas e aparentemente inofensivas limas de cheiro, no início do século 20. Mereciam o nome de limas de mau cheiro, pelo conteúdo que muita gente adicionava ao brinquedo. O entrudo fazia parte da cultura do folião, a cada ano ressurgia de alguma forma. Em 1970, noticiava-se no Diário de Pernambuco: “Este ano no Recife o molha-molha foi impulsionado por um invento infernal, um tipo de bomba de madeira, ou plástico, vendida por uma bagatela que dá maior alcance aos jatos d’água”. O invento é que se vê com os garotos na foto. Bomba que ainda se usava até o último carnaval, nos bairros e comunidades da periferia.

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