Depois de ler no Blog de Mauro Ferreira, sobre o álbum Quando o Carnaval Chegar, trilha do filme homônimo de Cacá Diegues, que completa 50 anos em 2022, voltei a escutar o disco. Impressiona como ele passou por meio século incólume, sem que o tempo lhe tirasse a atualidade. Naquele ano foi um dos LPs obrigatoriamente tocados nas festinhas, com o Chico e Caetano, aquele ao vivo no Teatro Castro Alves, e Transa, todos de 1972. O filme de Cacá Diegues preciso rever, nunca assisti todo.
Aliás, havia muita condescendência da crítica cinematográfica carioca, talvez porque todo mundo morasse na Zona Sul carioca, e fosse amigo de todo mundo. Macunaíma, o filme, é outro também muito enfadonho. Li o livro de Mário de Andrade duas vezes, e não o considero chato, como acho que Rui Castro rotulou outro dia numa entrevista no Roda Viva. Vi o programa escrevendo, entreouvi a entrevista. Mário de Andrade ficou mais conhecido como poeta. Da poesia, o melhor dos livros dele são os títulos. Do chamado modernismo, Alcântara Machado é o que considero que tem o texto mais leve, moderno, e interessante, ninguém se lembra dele.
Mas retomando o Quando o Carnaval Chegar, Chico Buarque, voltou da Itália virado numa Jiraya. Atualizou a sonoridade e a temática e formato das composições. Inimaginável, antes do tropicalismo, ele escrever canções feito Baioque ou Caçada. Bethânia tem uma atuação mais discreta no disco. Já Nara Leão faz neste álbum, o que fez no seu LP tropicalista, recorre ao passado. Canta a marchinha Mais um Estrela (Bonfiglio de Oliveira/Herivelto Martins) e Minha Embaixada Chegou (Assis Valente), duas músicas diretamente ligadas ao carnaval. Curioso é que Frevo (Vinicius de Moraes/Tom Jobim) nunca tocou em carnaval recifense.
Recordo, que num programa Flávio Cavalcanti, um dos jurados, ou o próprio apresentador, nem sei mais, esculhambou a letra de Frevo, pelo versos de ufanismo da letra: “Por entre cores mil/verde mar, céu de anil/nunca se viu tanta beleza/ai, meu Deus/que lindo o meu Brasil”. Claro que os versos de Vinicius são gagás de propósito, um recurso chamado ironia, que confunde muita gente.
Uns dois meses atrás, a revista Continente publicou uma entrevista que fiz com Ayrton Montarroyos, de extremo bom gosto no que canta ou grava. Comentando a música brasileira mais recente ele acredita que a maioria não será lembrada daqui a 50 anos, claro, faz ressalvas a nomes contemporâneos, feito o conterrâneo Zé Manoel. Eu seria até mais radical. Acho que esses sertanejos, bandas de fuleiragem, funkeiros e afins não têm repertório com cinco anos de validade, sendo generoso nos cinco anos. Escrevo escutando Quando o Carnaval Chegar. Uma música feito Mambembe, se não conhecesse, e me dissessem ser uma música nova de Chico Buarque eu acreditaria, até os arranjos continuam atualíssimos. E pensar que era tal tipo de música que tocava nas rádios AMs.
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