Lou Reed e integrantes da Velvet Underground chegam aos simbólicos 80 anos

Lou Reed completaria 80 anos nessa quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022 (faleceu em 2013). Dois antigos companheiros no Velvet Underground, também estão chegando a esta idade simbólica, John Cale (em 9 de março), e Sterling Morrison (em 29 de agosto). Só descobri o Velvet Underground na segunda metade dos 70, numa coletânea da Polydor, Pop Giants (acho). Fiquei fissurado numa faixa do LP, Sister Ray, que ocupa o lado B quase inteiro. São 17 minutos e 30 segundos de zoeira com dois ou três acordes. É uma das músicas que me marcaram. A escutava mais à vontade quando me encontrava sozinho. Pra não incomodar ninguém. Sister Ray, se tocada em alto volume, é motivo de reunião de condomínio. Lou  Reed  incomodava. Ia além do rock e do pop da época. A música foi gravada em 1967, e lançada em 1968, no álbum White Light/White Heat, e pouco tinha a ver com a música dos seus contemporâneos. 

Sister Ray foi escrita num trem, de Nova Iorque pra Connecticut, onde Lou Reed morava. A inspiração vem da peça Last Exit to Brooklin, de Hubert Selby, um dos autores preferido de Reed. Há oito personagens na letra da canção. Uma pessoa é assassinada, e ninguém toma uma atitude. São drag queens e marinheiros que vão à casa de um deles, se aplicam com heroína, participam de um bacanal, até serem interrompidos pela polícia. Lou Reed, o franzino filho de um pacato contador, e de uma dona de casa, era fascinado pelo lado barra pesado da vida. Sister Ray poderia ser uma peça, um conto, ou musical. Ele faz com a guitarra base o que Luiz Gonzaga fazia com a sanfona. Segura dois acordes pra contar um causo. A letra é longa, como as de Bob Dylan, em Blonde on Blonde. 

John Cale foi responsável pela doideira sonora de Sister Ray, colocando o máximo volume, e muita distorção na viola, O produtor Tom Wilson, e o pessoal na mesa de som não entendiam nada. Quiseram saber quem era o baixista. Não havia baixista. Quiseram saber a duração da música. Não se tinha previsão. “Termina quando acabar”, disse Lou. “A gente fez tudo o que seria heavy metal ali. Ou seja, se Sister Ray não é um exemplo de heavy metal nada mais pode ser. Ninguém até ali havia tentado o que fizemos no segundo disco, em que usamos eletrônica tosca”, comentou Lou Reed numa entrevista (citada no livro Transformer: The Complete Lou Reed Story, de Victor Bockris, 1994).

 Sister Ray foi a música preferida dos integrantes do Velvet Underground em White Light/White Heat, considerado por muitos o melhor álbum do Velvet Underground. O LP de estreia, Velvet Underground and Nico foi impactante para os poucos que o compraram, ou tiveram a chance de ver o grupo tocar o repertório ao vivo. Mas em 1966, quando foi lançado, serviu muito mais para divulgar Andy Warhol, suposto produtor do álbum do V.U. Nas matérias e críticas da época citavam-se mais Warhol do que o Velvet Underground. O álbum seria redescoberto nos anos 70, e mesmo na década seguinte à da sua feitura continuava impressionando, e é um disco impressionante.

Quando foi gravado, sob condições precárias, em julho de 1965, Bob Dylan ainda não tinha chutado o pau da barraca da música folk, impondo guitarras elétricas no festival folk de Newport, os Beatles ainda estavam em Help, um clássico pop, mas bem comportado, e os Rolling Stones ainda continuavam pegando carona no rhythm & blues americano (só lançariam o primeiro álbum autoral no ano seguinte). Não havia similar à música do Velvet Underground quando o disco foi lançado em 1966. Nem haveria em 1968, quando veio o White Light/White Heat, desta vez com um produtor que entendia do ofício, Tom Wilson. Se não havia banda comparável ao Velvet Underground, não havia nada que se assemelhasse a Sister Ray.

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