Buganda Royal Music Revival: outros sons africanos

Tambores. Quando se cita a música africana é como se no continente esta se resumisse à percussão. A África tem a segunda maior variedade de instrumentos do planeta. Só fica atrás da Ásia. Instrumentos que vão além da classificação ocidental, de corda, de sopro e palheta, percussão etc. Não raro um instrumento africano encaixa-se em mais de um desses compartimentos. Um bom exemplo é a kora, ou cora, cujo tamanho é determinado pelo tamanho da cabaça com a qual foi construído.

Cada cora é única. Na maioria das vezes é construída pelo próprio músico. Já existe luthiers no continente, mas continua predominando o artesão. Embora o instrumento seja igual em outros países, nunca é tocado da mesma forma. O músico a adapta à sua etnia, ao seu idioma. Uma cora do Senegal, fala “wolof”, sua afinação é diferente da que é tocada no Mali, que se expressa em “bambara”. O xilofone da etnia Malinque não emprega a mesma escala do xilofone do povo Bantu.  .

O álbum Buganda Royal Music Revival também exemplifica a multiplicidade e complexidade da música da África reúne gravações realizadas entre 1940 e 1966, na corte real do país que se localiza hoje na parte central do território de Uganda. O reino de Buganda remonta ao século 14, com a independência de Uganda, em1962, o reino foi extinto em 1966, e restabelecido, nos anos 90, como uma instituição cultural. O que se parecia perdido era o repertório dos músicos vindos de várias partes do reino para celebrar o Rei. Em 1966 o palácio foi violentamente atacado. Os músicos que não fugiram, foram assassinados. Muitos se dedicaram a outros ofícios. A música tocada no palácio ficou a cargos de jovens instrumentistas e intérpretes.

Com o passar do tempo, os veteranos reuniram-se à nova geração e lhes ensinou a música tradicional. Não apenas ensinando, mas tocando com ela, para o rei Muwenda Mutebi II. Eles foram convidados a tocar no documentário Buganda Royal Music Revival, cuja trilha incluiu preciosas gravações encontradas da música que entretia os antigos reis.

A sonoridade é difícil de assimilar a quem está condicionado ritmos nascidos das influências europeias com as da própria África. O álbum Buganda Royal Music Revival abre com Mujaguzo (Celebração), uma breve sessão de percussões pesadas (que lembram o célebre grupo Tambores do Burundi). Depois vêm cantos e respostas igualmente acompanhados por percussão, com Erusana Lutwana e o Budo African Music Club A faixa. A faixa seguinte, Akasozi Bamunanika Keyagaza, com Alberto Bisaso Ssempeke & Band como o endongo (espécie de lira) , amadinda (xilofone com 21 teclas), e abalere ,um ensemble de flautas. O andamento é frenético, nada que se costume escutar na música ocidental.

Ssematimba ne Kikwabanga, com Kopolyano Kyobe band, com xilofone e percussão, com músico de uma habilidade que  impressiona. Os títulos das músicas irão tornar a leitura pesada (sem querer diminuir o nível de discernimento de quem porventura ler o texto). Mas o Buganda Royal Music Revival chega a ser didático com suas 17 faixas, e duração de pouco mais de 37 minutos.

A música pode parecer barulhenta e repetitiva ao que são adaptados à música ocidental, e seu conceito básico: “a arte de combinar sons de maneira que soem agradáveis aos ouvidos”.

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