Ainda é difícil acreditar que Paulo, ou Paulinho, Rafael, como os amigos o chamavam, não esteja mais entre nós. Mas a arte transcende à morte. Asserção meio clichê, porém ratificada em Alceu Valença e Paulo Rafael, título do disco que aterrissa nesta sexta-feira, 8 de abril, nas plataformas de música para streaming, como selo Deck. O álbum foi um dos projetos ensejados por Alceu Valença durante a pandemia, e é o melhor deles, ao menos, dos que chegaram ao público. A gravação foi realizada em 2021, no estúdio da Deck, no Rio, com produção de Rafael Ramos e de Alceu.
A capa assinada por J.Borges combina com o disco, cujo repertório flui despretensiosamente, como se os dois tirassem um som na sala da casa de Alceu em Olinda. Um álbum com canções bem conhecidas, e outras um pouco menos, além da inédita Fada Lusitana, composta por Alceu em Portugal. No álbum ele só não assina Sabiá (Zé Dantas/Luiz Gonzaga), e em Eu Vou Fazer Voar (tem como parceiro Herbert Azul).
O clima é intimista em todas as onze faixas, Alceu canta pianinho, enquanto Paulinho vai derramando lirismo nos solos com que envolve as canções. Em Anunciação, a música mais tocada de Alceu Valença nos últimos anos (obrigatória para todos os cantores de barzinhos), Paulinho cria um novo solo, em lugar de repetir o solo antológico da gravação original do álbum Anjo Avesso (1983). Incluída neste álbum, Molhado de Suor, do disco homônimo, de 1974, não teve a guitarra de Paulo Rafael na gravação original (nesta época ele estava no Ave Sangria). É a única faixa pinçada da fase udigrudi do cantor. A parceria começaria em 1975, com Paulinho Rafael integrando o grupo que acompanhou Alceu Valença em Vou Danado Pra Catende, no festival Abertura.
Encerra-se com este pungente álbum, que tem apenas os dois amigos, irmãos. O “pungente”, não apenas por ser um disco póstumo de Paulinho Rafael, mas também pelas circunstâncias em que foi feito, durante a pandemia.
A sonoridade lembra um dos primeiros, senão o primeiro, concerto feito apenas pelos dois, lá pela segunda metade dos anos 70. Pela Internet circula um registro desse show, Alceu Valença cantando Dois Navegantes (do Ave Sangria, de Almir de Oliveira), e Paulinho fazendo o acompanhamento numa guitarra portuguesa. Aliás, Alceu tem uma queda confessa pelo fado. Aqui, além do fado escrito em Lisboa, ele dá uma roupagem lusitana ao xote Sabiá. Aliás, o álbum tem um quê de fado permeando todas as suas faixas. Um belo disco.
Uma pena, Teles!
Só tomei conhecimento agora através do seu bem informado site. Paulinho Rafael era gênio, e como tal deixou um vaco na qualidade musical.
Infelizmente a morte é compulsória para os bons, e Paulinho era um dos melhores do Brasil.
saudades, vai deixar muita
CurtirCurtir