“O jovem cantor mostrou que tem alguns (poucos) recursos que podem ser desenvolvidos com o tempo, o que também eu considero um negócio sério. Falta-lhe talvez maior maturidade, mais contato com a música, mais dedicação. Isto tudo, creio eu, pode ser obtido através de uma direção eficiente, e de estúdios sempre necessários à arte de interpretar”, crítica no Jornal do Brasil de Juvenal Portela, sobre o disco Bossa Maximus, de Carlos Lee, lançado pela Musidisc, de Nilo Sérgio, em 1966. “Pode não ser um grande disco, mas é sério e bastante razoável, principalmente em se tratando de um lançamento” (do mesmo texto).
Carlos Lee é um desses mistérios da MPB. Não se sabe que fim levou. No blog Toque Musical, sempre bem informado, o autor do texto sobre o álbum o pontua de interrogações. Quem foi? Por onde anda? Não que Bossa Maximus seja um disco que mudou a música brasileira. Mas o cantor é daqueles que surgem e somem, e não se fala mais nisso. Estranho, porque Carlos, que vinha de uma família musical – a mãe era soprano – tem um vozeirão, pra o gênero que canta, mas que cai bem na bossa nova, ou na MPB de viés nordestino, que entrou em voga desde 1965. É um cantor meio à moda antiga, mas não careta, faz a linha Lúcio Alves, com os graves parecidos.
Ele estava com 20 anos quando gravou seu único LP (lançou um compacto antes. E lançaria mais um em 1968, agora apadrinhado por Roberto Carlos). Quem o indicou à Musidisc foi um dos integrantes do Zimbo Trio. Carlos Lee fez dois testes e foi aprovado. Por esta época, estreou com um compacto, que fez relativo sucesso com Capoeira de Oxalá, do então iniciante Luís Carlos Sá, bem na cola dos afro-sambas de Baden Vinicius. Nos crédito do LP, como era comum na época, não se revela quem faz o acompanhamento, mas soa como o Zimbo Trio, com reforços de um flautista.
No repertório tem composição do já consagrado Tito Madi (Disseram), e de iniciantes feito Cesar Costa Filho, Sergio Bittencourt (Cantinguinha), o citado Luis Carlos Sá (futuro parceiro de Gutemberg Guarabira, depois também de Zé Rodrix), entrou no disco com Capoeira de Oxalá, Canto de Boiadeiro e Rei do Quilombo, canções derivativas do que era tendência na MPB, que se descolava da BN, mas as melhores do álbum. Meu Rio, de César Costa Filho e Ronaldo Pires Souza, é uma bossa já anacrônica (com letra plena de maiores encômios à cidade). Um álbum e um cantor curiosos.
Na foto da capa Carlos Lee pode ser confundido com astro do iê-iê-iê, aparentando menos do seus 20 anos, sobretudo para cantar uma música tão sisuda. O próximo disco, um compacto, aproximou o cantor da jovem guarda. Foi gravado na CBS, com uma força de Roberto Carlos. No lado A Desta Vez Parei (versão de Thank the Lord for the Night Time, de Neil Diamond), e Fica Perto de Mim (dele e Puruca, autor de Aceita Meu Coração, hit de Roberto Carlos). Ao que parece ele continuou na jovem guarda, em 1969, ele lançou mais um compacto com A Gaiola e Pequeno Sertão de Porcos e Leitões, esta meio psicodélica, mais ou menos no estilo que tornaria Raul Seixas Conhecido tres anos mais tarde.
Carlos Lee se apresentou, certa vez, no progrsma “Um Instante, Maestro!”, do apresentador Flavio Cavalcânti, na TV Tupi. A música que ele interpretou era no estilo “psicodélico” : no meio da apresentação, um dos músicos da banda fazia uma “performance”, se contorcendo grotescamente no palco.
Carlos Lee, sua banda e sua música foram triturados pelo júri do Flávio Cavalcânti. O mais comedido foi Sérgio Bittencourt, autor de uma das músicas que Lee gravou, em seu disco de estréia. Sérgio disse que conheceu Carlos Lee quando este trabalhava com seriedade, e lamentou que um artista tão talentoso estivesse enveredando por um caminho que arruinaria sua carreira.
Carlos Lee respondeu apenas à crítica de Sérgio Bittencourt. Disse que nunca trabalhara tão sério, em sua vida.
Mas o fato é que Sérgio Bittencourt estava certo. O caminho que o Carlos Lee escolheu, parece não tê-lo levado muito longe…
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ele enveredou pela jovem guarda, mas confesso que sabia muito pouco dele
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