As primeiras notícias sobre os Beatles apareceram nos jornais recifenses exatamente quando se fermentava o golpe militar de 1964. O rock and roll era um gênero relativamente recente, aliás, completaria uma década naquele ano (contada da gravação de That’s All Right, De Arthur Cruddup, por Elvis Presley, na Sun Records, em 1954). A crítica musical no país era incipiente, e os poucos que a praticavam não davam a mínima para danças de adolescentes, twist, hully-gully, rock ‘n’ roll. Os Beatles era apenas um nome fugaz, como tantos outros da música jovem.
Em 1º de abril de 1964, quando as tropas estavam na rua, com o golpe deflagrado, o jornal governista Última Hora (que dia depois seria empastelado, e encerraria as atividades em Pernambuco) tinha como chamadas de capa: “Arraes a Jango: Pernambuco Mobilizado Pela Legalidade”, “Justino: Ordem a Qualquer Preço”, “Tropas Legalistas Avançam para Minas”, “Jango Decreta Feriado Bancário Por Três Dias”. Mais adiante, uma surpreendente página inteira sobre o quarteto inglês com o título: “Beatles Invadem A Terra”
O Última Hora do Recife era um jornal de ideias bastante avançadas para a época, com uma equipe antenada com o que acontecia nas artes pelo Brasil, sem provincianismo. O UH era o jornal de Samuel Wainer, que passou um tempo no exílio. O Última Hora do Rio resistiu até 1971. Assim fenômenos pop feito os Beatles eram tratados como tal, não como bobagem infantil. No Diário de Pernambuco, uma das primeiras citações ao grupo tem uma foto de quatro índios, com corte de cabelos que se assemelha ao dos ingleses. Embaixo da foto a legenda: “Os Beatles – edição nacionalista”, uma provocação à ala nacionalista da esquerda.
Assim como os discos voadores nos anos 50, os Beatles eram uma espécie de OVNI pop. Não se sabia muito bem como explicar o fenômeno, ne quem tipo de música cantava. Aventava-se uma vinda dos Beatles à América do Sul, que incluiria o Rio de janeiro na agenda. Segundo a nota, do jornal Última Hora, na coluna de Ricardo Amaral (em fins de março de 1964), o grupo de Liverpool receberia 25 mil dólares por 14 apresentações. Para vir ao Brasil, teriam acrescentado uma cláusula que tornava obrigatória a compra de “perucas Beatles” (em inglês Beatles whig), que se vendiam aos milhares nos EUA. A cota para o Rio seria de cinco mil perucas. Os Beatles não vieram à América do Sul, claro, tampouco ao Brasil, um país que se modernizava em câmera lenta. Na mesma coluna em que noticia a turnê que não aconteceu, comenta-se sobe uma dondoca do Rio que embarcou no voo de volta com um filhote de jacaré. Inimaginável nos dias atuais.
O que mais se comentava sobre os Beatles era o comprimento da cabeleira. Na capa da edição do citado Última Hora (16 de fevereiro de 1964), lê-se uma matéria curta sobre o quarteto, que empreendia a lendária primeira turnê pelos Estados Unidos. Sobre a foto de Paul, Ringo, George e John, os dizeres: “Na Base da Cabeleira do Zezé”. Refere-se à marchinha Cabeleira do Zezé, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal, maior sucesso do Carnaval de 1964, gravada no final de 1963, por Jorge Goulart na Mocambo/Rozenblit: “Olha a cabeleira do Zezé/será que ele é?/será que ele é?//será que ele é bossa nova?/será que ele é Maomé?/parece que é transviado/mas isso eu não sei se ele é/corta o cabelo dele/corta o cabelo dele”.
Nessa época em Campina Grande quando se queria chamar o kra de fresco o chamava de “Cabeludo’
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