Get on Board é o título de um álbum lançado por Brownie McGhee e Sonny Terry há 70 anos, pelo selo Folkways. Dois blueseiros que começaram a tocar no início dos anos 40, e bastante influentes no valorização do gênero nos anos 60. McGhee soube administrar bem carreira, atravessando décadas, participando inclusive de filmes badalados. Ambos foram dos poucos blueseiros de sua geração não tratados apenas como relíquias do passado do blues. Os dois participaram de filmes badalados, como A Cor Púrpura (de Steven Spielberg, 1985) Crossroads (John Fusco, 1986), ou O Panaca (The Jerk, Steve Reine, 1979). Terry morreu em 1986, e McGhee em 1996.
Os dois recebem um tributo de músicos, hoje também venerandos, tanto pela obra, quanto pela idade: Ry Cooder, que completa 75 anos, e Taj Mahal que chega aos 80, ambos aniversariam maio. Cooder e Mahal são quase “cult”, ou seja, com um público pequeno mais qualificado. Os dois têm em comum, entre outras coisas, o fato do intercâmbio com outras cultura, caribenha, africana, indiana. Ry Cooder teve como produção mais badalada e premiada o trabalho com os cubanos do disco, e filme, Buena Vista Social Club. Mas está na história do rock and roll no clássico dos Rolling Stones Honky Tonk Women, cujo riff, um dos mais célebres do gênero, foi criado por ele no estúdio em que os Stones gravavam o álbum Let it Bleed, em 1969, a apropriado por Mick Jagger, sem lhe dar crédito.
Taj Mahal é enquadrado como blueseiro, mas já entrou e saiu de todas, do pop ao rock e o jazz., participou de festivais badalados dos anos 60, filmes, o escambau. Ele e Ry Cooder são amigos há quase 60 anos. Em 1965, participaram de uma banda chamada Rising Sons, o começo dos dois. O grupo gravou um único disco, que só foi lançado 27 anos depois. Dias atrás lançaram um álbum. Com selo Nonesuch, com o mesmo título do álbum setentão de Sony Terry e Brownie McGhee, Get on Board. Não é simplesmente um tributo como tantos outros. Cooder e Mahal aprenderam muito com discos de Terry e McGhee. Tentam voltar, na medida do possível, à sonoridade dos dois nos anos 50.
Para isso produziram-se com despojo, com poucos overdubs (gravações sobrepostas), sobretudo para Ry Cooder acrescentar mandolim e banjo (Joachim Cooder, seu filho, é o baterista do disco). Foram três dias de gravações, comum resultado que se aproxima de uma roda de blues e folk descontraída tocada por amigos. Do disco original, foram pinçadas três faixas, uma delas é The Midnight Special, tornada famosa pela versão do Creedence Clearwater Revival em 1969. A versão deste álbum fica entre a do CCR e a de Sonny Terry e Brownie McGhee. Cantor de timbre rascante, afinado, Taj Mahal é também multinstrumentista. Ele procura trazer pro disco as idiossincrasias de Sonny Terry, que tirava da gaita sons inusitados.
Get On Board é desses álbuns despretensiosos, na base do “vamos tocar o que a gente gosta”. Eles gostam e entendem a fundo o que tocam, e podem levar gente jovem a se interessar por dois blueseiros que foram tão influentes, e estavam esquecidos. Coisa que se poderiam fazer aqui com sambistas ou forrozeiros badalados até os anos 60, Ary Lobo, Ataulfo Alves, Gordurinha, a lista é longa.
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