TBtelestoques: Pernambuco teve uma dança que nenhuma outra terra teve: o torrado

“O samba, conhecido também por batuque, é uma dança popular que talvez tenha tido sua origem lá pelas costas da Guiné. Por circunstancias não muito difíceis de serem investigadas foi ele transportado para os estados do Brasil, e até hoje permanece entre nós entre a civilização que evolui. O samba tem muitas variantes e, entre estas, nota-se a chamada torrado.

Esse torrado é uma coisa pavorosa. É mais do que um frevo; Para dançá-lo (gente afeita ao samba e seus compostos) todos se reúnem, homens e mulheres em lugar mais ou menos escasso às vistas de gente séria). Pessoa da lira somente toma parte no forrobodó. Um ganzá e  triangulo isocronicamente, fazem parte da orquestra.

Faz-se uma gritaria confusa que pertence a uma toada interminável, seguida por meneios e gestos obscenos, de gente que constitui uma numerosa roda, como no samba, no torrado há umbigadas e outros passos obrigados. O torrado porém se diferencia do samba pelo passo da pitada. É por isso que ele só pode ser dançado pelo pessoal do chuá. Entre os lugares em que se  dançava o torrado, estava o Caranguejo, que fica no distrito da Madalena, perto da maré”

O trecho acima foi transcrito do Diário de Pernambuco, e edição de 2 de julho de 1915. O hoje esquecido “torrado” era dançado numa variante da gafieira, frequentada por mulheres de má fama, sujeitos afamados pela vagabundagem, valentões do risca faca. Infelizmente não se conhece registro do ritmo do torrado. Mas o tal passo da pitada era o que levava a dançarem no torrado “gente do chuá”. Consistia em passar o dedo no traseiro de alguém, e levar este dedo ao nariz, pra tomar uma pitada, ou um torrado, como se fazia com o rapé.

Nem sempre o que tinha sua retaguarda, ou da companheira, conspurcada agia na esportiva. É rara a edição de jornal da época sem ocorrências de facadas e navalhadas nos torrados, geralmente tendo uma mulher como pivô. Em carta a redação de A Província, em 1925, um leitor indignado com os torrados que funcionavam em Santo Amaro da Salinas, detalhava o que lá acontecia: “É uma casa de dança de mulheres da vida fácil, as menos cotadas no baixo mercado das rameiras, com tipos desclassificados, os desordeiros, jogadores, ébrios de profissão, gente da pior espécie”.

Mais adiante o missivista denuncia: “Ali se reúne aquele povo sem o menor sentimento de moralidade, educação ou higiene. E começa o frevo, a pouca vergonha, explodem os gritos selvagens, urros de verdadeiros animais, em festas sarlanapalescas, e costumes sodômicos”, o “sodômico” certamente se referindo ao “passo da pitada”. O torrado entrou pela década de 30, sempre dando trabalho à polícia ou aos pronto socorros, tantos os charivari, navalhadas e peixeiradas que aconteciam entre os frequentadores.

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