Lucy Alves incursiona pela música popularesca nordestina em seu terceiro disco, Perigosíssima.

A cantora (e atriz) Lucy Alves continua sendo um talento à procura de uma identidade musical. Em seu terceiro álbum solo (gravou vários com o grupo Clã Brasil), Perigosíssima (WK Records) envereda pela música popularesca nordestina, equivocadamente chamada de forró, por vezes denominada forró eletrônico. Pode ser eletrônico, mas não é forró. E não é preconceito, nem purismo. Luiz Gonzaga incluiu guitarra e baixo elétricos em seu grupo há 50 anos. Mas esta música, em grande parte descartável, usurpou o nome e. para quase todo mundo. é forró. Inclusive para Lucy Alves.

Badalada numa edição do The Voice Brasil, ela lançou um álbum de estreia solo em 2014, com um repertório de clássicos da MPB, mas muito aquém do que se esperava dela, que veio da música erudita e passou pelo forró, com o citado Clã Brasil, banda formada por músicos da sua família. O repertório daquele disco peca pelas canções óbvias, e batidas, sem que lhes fossem dadas interpretações que justificassem a escolha de títulos manjados como Disparada (Théo de Barros/Geraldo Vandré), ou Tropicana (Vicente Barreto/Alceu Valença).

Avisa, o segundo disco, de 2021, passou despercebido. Lucy prestou um tributo ao Falamansa (certamente o único que o grupo recebeu), campeão de vendagem do forró universitário dos anos 90, que faz xote parecido com reggae, e teve mais sucesso do que os mais importantes nomes do forró do Nordeste (Tato é um dos maiores recebedores de direitos autorais no período junino. Sempre no topo do listão do Ecad). No final da semana passada, Lucy Alves lançou Perigosíssima, em que ritmos bregas têm letras à Marília Mendonça. Como convidados dois nomes  conhecidos apenas no universo da fuleiragem music, Eric Land e Michele Andrade.

Um disco bem produzido, com belas fotos (de Luciana Isuka), design de bom gosto, e Lucy Alves canta bem qualquer estilo. Embora este que escolheu gravar não seja pródigo em bons intérpretes, até porque quem o aprecia não dá importância à qualidade musical. Feito ocorre na axé music, os autores da fuleiragem music dão-se as mãos para criar canções. A faixa Beijo Ocupado, por exemplo, ocupa seis autores, incluindo a cantora Allefy Lyncon Torrão de Lima: Augusto Tavares Guerra do Nascimento, Hyago de Santana Lima,  Lucy Alves, Bianca Merhy Fraga, Nattália Alexandrino dos Santos, Outra ala de compositores assina a faixa título: Allefy Torrão de Lima, Lucas Bezerros Medeiros, Matheus Correa Sperandio Cott (curioso isto de nomes e sobrenomes completos).

Perigosíssima encaixa-se como uma luva nos estilos que há anos predominam nos palcos dos grandes arraiais juninos nordestinos, entre outros, os de Campina Grande, Caruaru, Amargosa (BA), ou Petrolina: bandas de fuleiragem e sertanejos, intercalados por medalhões do forró de verdade, ou da MPB, DJs e até padre cantores.

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