Milton Nascimento anuncia turnê final, mas continuará compondo e gravando

Milton Nascimento está nas páginas dos jornais neste domingo, 15 de maio, ao anunciar que fará em 2022, sua derradeira turnê, intitulada A Última Sessão de Música, composição sua, do álbum Milagre dos Peixes (1973), por sua vez paráfrase do título do filme, de Peter Bogdanovich, Última Sessão de Cinema (Last Picture Show, 1971).  Sobre o álbum Clube da Esquina ter sido escolhido, numa enquete da Folha de São Paulo, o melhor da música brasileira em todos os tempos, Milton comentou com o jornalista Luiz Fernando Vianna, em matéria publicada em O Globo: “Não dá nem pra falar da alegria que estou sentindo. Melhor de todos os tempos não pensei. Mas que é bom, é”, ponderou.

Ao longo de três décadas escrevendo sobre música entrevistei Milton várias vezes, mas guardo duas lembranças fortes dele. Uma numa quinta-feira da semana pré-carnavalesca. Ele viera participar da abertura do Carnaval do Recife, de 2013, a convite de Naná Vasconcelos. Como sempre faziam todos os anos, Naná e Patrícia ofereceram um jantar, na casa deles, no Rosarinho, para amigos, e os convidados à abertura (neste ano teve também a portuguesa Carminho) . Peguei uma carona na van que traria Milton Nascimento de volta para o hotel em Boa Viagem. Milton estava muito debilitado pela diabete, caminhava lentamente, e precisou de ajuda para subir no carro.

Dois meses depois, o vi no Teatro Guararapes, no show em que comemorava 50 anos de carreira. Estava bem melhor. Fez um ótimo concerto. O que me chamou atenção foi o teatro não estar lotado. A geração nascida nos anos 90 ainda não tinha assimilado Milton. Na época de Geraes, 1977, ele lotou o Geraldão. Cerca de 12 mil pessoas foram assisti-lo, com participação da turma do Clube da Esquina, e direito a dueto de Milton e Beto Guedes, em Fé Cega Faca Amolada.

No show dos 50 anos, pelo menos aqui no Recife, Milton Nascimento, em relação ao publico, pode até ter se recordado do show de estreia de Clube da Esquina, no Rio, no Teatro Fonte da Saudade, no final de abril de 1972, com direção de Ruy Guerra “Todas as deficiências do espetáculo, luz (falta de entrosamento), som (exagero no uso do eco), plateia (menos que meia casa), cenário (muito elemento, e nenhum resultado) – não conseguem nem de longe, ao menos, arranhar, a soberba atuação de Milton Nascimento na noite de estreia. No palco o corpo, os gestos, a garra (o entregar-se à música), o extraordinário cantor”, primeiro parágrafo da crítica de Júlio Hungria no JB (edição 27 de abril de 1972). Muitos críticos não assimilaram logo a música do Clube da Esquina, mas desde que entrou em cena com as mãos recheadas de futuros clássicos, O cantor e compositor foi incensado, como poucos de sua época, com reconhecimento internacional quase imediato.

Milton Nascimento esperaria mais uns poucos para ter seu biscoito fino consumido por um público maior, e o Clube da Esquina, aguardaria três décadas para se tornar quase uma unanimidade de crítica e consumidores. Milton sai dos palcos, continuará nos estúdios, como uma trincheira de excelência musical em meio à bagaceira que assola o país que. mais do que entreter, é motivação para tratados sociológicos acadêmicos.

Link do site que estreou hoje referente à derradeira turnê de Milton Nascimento, que começa em 11 de junho na Cidade das Artes,no Rio. O cantor completa 80 anos em outubro:
https://www.aultimasessaodemusica.com/

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