Ontem, terça-feira, 7 de junho de 2022, a carioca Adiléia da Silva Rocha completaria 90 anos. Morreu em 24 de outubro de 1959, de infarto, estava com 29 anos. Adiléia iniciou a carreira no final dos anos 40, seguindo a cartilha da época. Foi caloura no programa de Ary Barroso e Renato Murce (Papel Carbono). Começou no rádio como tele-atriz. Foi descoberta como cantora pelo mais famoso apresentador da era do rádio o cearense César de Alencar, e estreou em disco, em 1951, com o samba carnavalesco Que Bom Será (Paulo Marques/Salvador Micceli/Aylce Chaves). Tornou-se cantora da noite, na Beguin, boate do Hotel Glória, cantaria na Vogue e outra casa noturna célebre. Boa voz, carisma, e simpatia, a levaram a ser contratada pela Rádio Nacional, o melhor elenco do país nos anos 50.
Sozinha ou com parceiro, Dolores Duran assinou alguns clássicos da música brasileira, regravados até os tempos atuais, no entanto sua discografia é errática. Crooner de boate, precisava ser versátil, com repertório o mais abrangente possível. O de Dolores Duran ia de standards e sucesso internacionais, sambas, sambas canção, boleros, tangos. Não por acaso o primeiro LP de dez polegadas, Dolores Duran Viaja (Copacabana) vai de Kaiser Waltzer (de Strauss), a Sinceridad (Gastón Perez), No Other Lover (Rodgers/Hammerstein), ou Canção da Volta (Ismael Neto/Antonio Maria).
No entanto, o seu talento como intérprete e compositora, rendiam-lhe elogios na impressa, e a poupavam das notinhas ácidas do irascível Antonio Maria, de quem escapa pouca gente. A cantora Leny Eversong, por exemplo, que cantava em várias línguas (o que era muito comum dos anos 50 até meados dos 60), ganhou a alfinetada de Maria: “Quem canta em vários idiomas, não canta bem em nenhum”. Dolores Duran, que frequentava a mesa de bar de Antonio Maria, foi das raras mulheres compositoras de sua época, e com canções do nível de A Noite do Meu Bem, um clássico do samba canção.
Por trás do corpo pequeno (tinha um 1,56m), rostinho redondo de querubim, havia uma mulher forte. Mostrou isto quando integrou, em 1958, uma caravana de artistas brasileiros, corajosos o suficiente para atravessar a “cortina de ferro”, a União Soviética e a China. Isto em plena guerra fria. Com ela foram Maria Helena, Conjunto Farroupilha, Jorge Goulart, Nora Ney, e uma orquestra regida por Paulo Moura. Dolores Duran caiu fora depois das apresentações na Rússia.
Nas notinhas de fofocas a volta antecipada deveu-se a uma desavença com a cantora Maria Helena (que substituiu Nelson Gonçalves, que desistiu da viagem). No Brasil, Dolores Duran negou a briga com a colega. Atribuiu o abandono da turnê por irregularidades nos pagamentos de cachês, a truculência dos cicerones, as visitas obrigatórias a fabricas, fazendas, e núcleos de operários. Para acabar com a boataria ela concedeu uma entrevista à Revista do Rádio: “Quando vi que para ir a uma igreja católica tinha que implorar durante três dias e que os dirigentes da nossa embaixada queriam que eu jogasse flores em Kruschev (o então premier da U.R.S.S), pedi meu boné”. Mas não foi fácil. Queriam que ela continuasse e acompanhasse o grupo à China. Depois de muito bate-boca, Dolores conseguiu uma passagem para Paris. Dias depois, ela contou à imprensa que recebeu ameaças por telefone por ter falado mal da União Soviética.
Depois desta turnê conturbada, Dolores teria mais um ano de vida. Estranhamente, não se passou para a bossa nova, apesar de parceria com Tom Jobim, amizade com Vinicius de Moraes e com outros bossa-novistas. Ficou do lado de Antonio Maria, que fustigava a BN sempre que podia. Em 1959, Dolores Durante sofreu dois infartos. O segundo foi fatal.
Matéria show de craque, Teles. Parabéns!!!
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