A onda levantada por Zé Neto, da dupla sertaneja com não sei quem, transformou-se num tsunami do óbvio. Todo mundo já sabia que os artistas da linha popularesca têm como maior mercado os eventos pagos com dinheiro público, sobretudo de prefeituras. Este nicho domina o São João no Nordeste. Os forrozeiros autênticos, cada vez mais, são realocados para os palcos periféricos, ou “culturais”. No entanto, o maior problema não está nem nos cachês, mas o que é oferecido aos contribuintes. O quê o citado Zé Neto e o camarada dele agregam (para usar uma palavra da moda) à cultura dos ditos contribuintes? Só mexem com o instinto básico do ser humano: levar o corpo a acompanhar o ritmo da música;
Não conheço a da maioria desse pessoal que vai cantar no São João do interior. Alguns nem sabia que existiam. Nem me interessa. Ouço-os casualmente. As melodias não me soam bem, as letras são de uma pobreza poética que, em outros tempos, seria para agradar apenas aos com o mesmo nível escolar dos que a escrevem. No entanto o sertanejo (na verdade pop brega) é consumido pela classe média, universitária, que o assimilou pela execução massiva no rádio e TV. Este último veículo ainda mais, quando a gravadora Som Livre abriu as portas para artistas do popularesco, e os encaixou em todos os programas de grande audiência da TV Globo.
É por esta e outras que o cachê de Zé Neto & fulaninho daria pra pagar 12 shows da Spokfrevo, na sua versão forrozeira. E ainda sobraria dinheiro. A prefeitura de Caruaru divulgou o valor dos cachês dos artistas que animarão os festejos juninos de lá. Quer dizer, juninos, porque acontecem no mês de junho. Aliás, não só em Caruaru, no Nordeste inteiro. Os palcos principais são quase sempre ocupados por sertanejos e afins. O cachê de Zé Neto e do parceiro dele custará 500 mil reais. O do maestro Spok e seus músicos, 40 mil reais.
Infelizmente as prefeituras do interior tornaram-se Capitanias Hereditárias, onde quem mandam são os salafrários do dinheiro do contribuinte (nosso!), que são os prefeitos eleitos pelo.
A nossa formação cultural é muito estranha: o que é bom o povo despreza; o que não mestra, o povo abraça e curte!
CurtirCurtir
acho este formato dos são joões nordestinos consolidados. Não tem mais volta
CurtirCurtir