Com perdão do adjetivo clichê, a cena icônica começa com um 1 minuto 58 segundos do filme. Dura 2 minutos. Dois motociclistas, em Harley Davidsons chamativas. Wyatt e Billy pegam a estrada. De repente, um riff de guitarra, bateria, baixo, órgão, e o cantor:
Get your motor runnin/Head out on the highway/Looking for adventure/In whatever comes our way (Bota o motor pra funcionar/vamos pra Estrada/à procura de aventura/qualquer uma que apareça”. Os versos são de Born to Be Wild (Nascido pra Ser Selvagem), do grupo canadense Steppenwolf. O filme? Easy Rider que, no Brasil, foi batizado de Sem Destino, uma incongruência, porque os motociclistas viajavam com destino certo e sabido. Iam pro Carnaval de New Orleans.
A música tornou-se o hino dos motociclistas mundo afora. Mas não foi composta inspirada em motocicletas. Mars Bonfire, guitarrista dos Sparrows, do qual surgiu o Steppenwolf, fez para seu automóvel, um Ford Falcon. Bonfire gostava de dirigir em alta velocidade pelas estradas do deserto da Califórnia. O grupo, ainda como Sparrow, mudou-se para Los Angeles (depois para Detroit e San Francisco). Mars Bonfire diz que sua canção é sobre liberdade. Aliás, foi em Born to Be Wild que, pela primeira vez, a expressão “heavy metal” aparece numa canção.
O metal pesado, pois, é um carro não uma moto, mas vá dizer isto a um grupo de motociclistas orgulhosos de suas Harley Davidson barulhentas. 53 anos depois de Easy Rider, dirigido por Denis Hopper, protagonista do filme com Peter Fonda, não tem mais volta. Born to Be Wild é o hino dos motociclistas.
É um dos clássicos exemplos do cinema incensando música. Neste caso, incensou também o Steppenwolf. Born to Be Wild é do primeiro da banda. Recentemente, a canção Running Up the Hill (A Deal with God), da inglesa Kate Bush chegou aos primeiros lugares do paradão inglês, catapultada pela inclusão na trilha da série Stranger Things, do Netflix. A música é de 1985, e Kate Bush, embora ilustre desconhecida no Brasil, é uma das mais importantes artistas de música popular na Inglaterra, onde teve dez canções no Top 10, e 25 entre as 40 mais tocadas. Kate está na estrada desde os 16 anos. Foi descoberta por David Gilmour, do Pink Floyd, e estreou em disco em 1978.
QUEEN
Desde que Twist and Shout, com os Beatles, voltou às paradas 23 anos depois, em 1987, ao entrar na trilha da comédia Back to School (Volta às Aulas, dirigido por Alan Metter. Naquele mesmo ano, o filme Good Morning Vietnam (Bom Dia Vietnam, de Barry Levinson) fez muita gente procurar a canção What a Wonderfull World (Bob Thiele e George David Weiss), lançada por Louis Armstrong em 1967). Em 1986, Stand by Me (Conta Comigo), de Rob Reiner, suscitou um revival da canção homônima com Ben E.King (em parceria com Leiber & Stoler), sucesso em 1961.
Hits do passado passaram a ser incluídos em trilhas daí por diante. Dois bons exemplos: Unchained Melody (Alex North/Hy Zaret), na versão de The Righteous Brothers.Tema de Ghost – O Outro Lado da Vida (1990, de Jerry Zucker), Bohemian Rhapsody, do Queen em Wayne’s World (Quanto Mais Idiota Melhor, de Penelope Spheris, 1992). A canção do Queen batearia recordes de plays no Spotfy depois do sucesso da cinebiografia Bohemian Rhapsody (2018), de Brian Singer e Dexter Fletcher.
No Brasil o fenômeno não acontece com frequência no cinema, mas se antecipou às séries americanas, com os álbuns de novelas. Houve tempo em que a Som Livre, então gravadora do sistema Globo, tinha como maior fonte de lucro as trilhas de novelas. Em 1976, Estúpido Cupido, texto de Mário Prata, dirigida por Régis Cardoso promoveu o retorno de Celly Campello aos palcos. O título de novela foi um dos primeiros sucessos da primeira estrela do rock nacional em 1959, uma versão de Fred Jorge para Stupid Cupid, original de Neil Sedaka (Sedaka/Greenfield).
Deixe um comentário