Dona Ivone Lara ganha disco com sambas que a confirmam como uma das grandes do gênero

Mais que oportuno o álbum Dona Ivone Lara 100 anos – Sucessos e Raridades (Warner Music), incensada desde o megassucesso, em 1978, de Sonho Meu, com Maria Bethânia e Gal Costa, a sambista, nascida e criada numa família extremamente musical, fez sucesso com só gravou um disco seu aos 56 anos, no mesmo 1978, o LP Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz (EMI-Odeon). Gravar tardiamente foi quase uma regra entre os grandes do samba. Cartola entrou em estúdio para o álbum de estreia com 66 anos, Nelson Cavaquinho com 49.

Na verdade Dona Ivone Lara gravou antes, mas em duas coletâneas de sambas. O LP inaugural surgiu pela insistência do radialista e produtor Adelzon Alves, um paranaense a quem o samba deve muito. Ele dobrou a resistência da sambista, mas teria que dobrar também a do marido dela, que não via com muita simpatia a mulher tornar-se artista profissional

Com uma maioria de parceria com Délcio Carvalho, os sambas de Dona Ivone Lara assemelham-se em requinte lírico e harmônico a Paulinho da Viola. Isto foi constatado por diversos nomes consagrados, ou emergentes, do samba. Clara Nunes (então casada com Adelzon Alves) gravou Alvorecer (com Délcio Carvalho), também título do álbum da cantora em 1974. A partir daí ela passou a ser procurada para fornecer sambas. Em 1975, Roberto Ribeiro gravou Os Cinco Bailes da História do Rio (com Silas Oliveira e Bacalhau, samba enredo da Império Serrano), e Beth Carvalho registrou Amor sem Esperança, em seu álbum Pandeiro e Viola. No ano seguinte, Roberto Ribeiro, um dos que impulsionaram o samba a frequentar as paradas, gravou Acreditar (com Délcio Carvalho).

Dona Ivone Lara foi uma das primeiras mulheres e integrar a ala de compositores de uma escola de samba, no seu caso a Império Serrano, que parentes seus ajudaram a fundar. O talento foi maior que o preconceito até então existente. Talento que levaram às comparações com Cartola. É por aí, mas o brilho das composições reluzia com mais força quando grandes estrelas da MPB as gravavam. Caso de Alguém me Avisou, incluído no LP Álibi, de Maria Bethânia, com participações de Caetano Veloso e Gilberto Gil. A faixas foi um dos grandes sucessos do ano de 1980.

Dona Ivone Lara 100 Anos reúne sambas manjados como o citado Cinco Bailes da História do Rio, a citada Alguém me Avisou, Tendência (com Jorge Aragão), e raridades, entre estas, Doutor Getúlio, de Chico Buarque e Edu Lobo (composta para uma peça de Ferreira Gullar e Dias Gomes, Vargas, de 1983, uma remontagem de Dr.Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, de 1968). Uma curiosidade, Dona Ivone Lara gravou Dr.Getúlio, com selo Som Livre, num compacto, que traz no lado B Festa Animada, composta por ela para o disco infantil Pirlimpimpim (Som Livre, 1982). Mais raridades, Gandaia, pinçada de um disco de Antonio Carlos & Jocafi, ou Não é Assim, de uma participação em álbum de Paulinho da Viola, autor do samba (o LP A Toda Hora Rola Uma História, de 1982).

São 14 faixas, entre elas um pot-pourri com oito sambas. Tudo papa fina, de uma das maiores cantoras e compositoras da história do samba carioca, em particular, e da MPB, em geral. O disco foi lançado no formato digital, mas ganhará edição física.

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