A Soparia foi o bar mais tamporoso do Recife nos anos 90

Quando Rogê, que eu já conhecia como divulgador da Warner, me falou que ia abrir um negócio chamado Soparia, não fiz muita fé. Não conhecia ninguém que saísse de casa pra tomar sopa, incluindo eu mesmo. Mas a Soparia provou-se uma versão muitcho louca do não menos louco Beco do Barato, nos anos 70, o palco da turma do udigrudi pernambucano, que ficava na Conde da Boa Vista, quase em frente à Fafire.

Pois bem, o pessoal passou a baixar naquele trecho da Herculano Bandeira, no Pina, entre a Capitão Rebelinho e a Avenida Boa Viagem. Virou point. A cada dia dava mais gente. Surgiram outros botecos, feito o Garagem Mecânica, um que só tocava reggae Logo já merecia, por falta de outro mais adequado, o epíteto de Baixo Pina (a partir do Baixo Leblon, e Baixo Gávea cariocas). O astral era alto, o som também, e grande a fedentina de um esgoto que margeava a calçada da “Sopa” como o antro de Rogê era carinhosamente chamado.

No primeiro Abril Pro Rock a imprensa do sudeste veio ver in loco o emergente manguebeat e, inevitavelmente, acabou a noite na Sopa.

Me lembro de uma noitada lá com Laílson, Carlos Eduardo Miranda, e Gastão, da MTV.  Miranda, o saudoso “Véinho”, tecendo loas e mais loas à Sopa, pra ele um “barato, tchê”. O Baixo Pina passou das páginas dos cadernos culturais locais para a Ilustrada, Caderno B, MTV, que o consideraram um dos bares mais legais do país, com fedor e tudo.

E a catinga realmente incomodava, mas non troppo. Ela não impedia que a gente balançasse o esqueleto ao som do Mestre Ambrósio, em início de carreira, ou curtir o reggae do percussionista Repolho. E do som que rolava na radiola de ficha (Olho de Peixe, de Lenine, estourou naSopa), de Lula Cortes e Má Cia, ou do gaúcho Wandner Wildner.

De repente, não mais que de repente, os orgãos públicos resolveram intervir no local, que já havia denominado oficialmente de Polo Pina. Acabaram com a inhaca. Palmas para eles. Mas aí resolveram urbanizar aquele trechinho da rua. Enfeitaram com jarros, plantas ornamentais, ou tropicais (não entendo nada de planta), bancos e abrigo de ônibus moderninhos. Uns comerciantes foram na onda e investiram em bares transados, e meio bregosos, num lugar onde o pessoal tava querendo apenas transar um som e outros baratos.

Resultado. Esvaziaram o point. Por este e outros motivos Rogê fechou a Sopa, e abriu O Pina de Copacabana. Os outros bares logo sumiram. Os frequentadores da Soparia mudaram-se pra Rua da Moeda. Mais um tempo, Rogê fechou O Pina de Copacabana e virou ruralista. Da última vez em que fui na Moeda, a rua tava um horror, com música ruim ao vivo nuns bares péssimos. Nunca mais passei por lá, assim como faz tempo que não passo pelo antigo Polo Pina, nem sei o que funciona no local onde ficava a Soparia, um bar onde a sopa vinha fria, e a cerveja quente, porém nunca mais surgiu um bar tão tamporoso no Recife. Sim, quase esqueço. A Soparia tá inteirando 30 anos neste 2022 (me parece que começou no final de 1991. Porém foi em 1992 que realmente deslanchou).

5 comentários em “A Soparia foi o bar mais tamporoso do Recife nos anos 90

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  1. Soparia deixou saudades (nunca fui fã de sopa, mas até que gostei das de lá!)…a radiola de fichas, o sofá vermelho, decoração deliberadamente brega, a muvuca na fila do banheiro…😂😍
    PS: era Oficina Mecânica o bar vizinha, o dono era um francês, e rolava um som mais intimista tipo Smiths, The Cure…mto legal tbm!!

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