Teve um tempo em que eu gostava de ler ficção científica. Por mais pessimistas os autores, feito Anthony Burgess, em Laranja mecânica, sempre havia uns troços joiados nas histórias. Neste citado livro, os jovens são violentos, baixam o sarrafo em gente da boa idade (que é como chamam a má idade), mas pelo menos curtem a música de Beethoven. Hoje pintam e bordam, mas ouvindo uma musiquinha que é o pior mal feito deles. Pior é que nem são originais. Aquela já meio antiga, do “chupa que é de uva”, deve ter sido copiada de outra, que cantava um português chamado Quim Barreiros: “Chupa Tereza/chupa Tereza/que este gelado é feito de framboesa”.
Esta semana mesmo, vou saindo pra rua, e tava um sujeito vertendo água, ou seja, o popular pipi, no muro de uma casa perto do meu prédio, às 11 da matina. Me lembrei do título de um DVD de Chico Buarque, este é o país da delicadeza perdida. Nunca fui, por exemplo, de pagar pra que me engraxem os sapatos. Uma vez ou outra, eu sentava naquelas cadeiras de engraxate na Guararapes, e engraxava os bichos (os sapatos, os sapatos). O engraxate tinha a educação de um PHD, comparando-se aos atuais. Os poucos engraxates que ainda circulam pela cidade, chegam pra gente, e vociferam: “E aí, negão, a fim de dar um grau?”.
Na época em que eu e os da turma de boêmios vespertinos entornávamos o precioso líquido na desditada, e tresloucada, Sete de Setembro, fazia-se necessário ter sobre a mesa o kit anti-incomodação: um saquinho de amendoim, ou de castanha, uma carteira de cigarros vazia, um brinquedo qualquer de fabricação chinesa. No momento em que a conversa tava animadíssima, a gente falando mal de algum amigo (assim como os amigos falam mal da gente quando não estamos), éramos interrompidos pelo vendedor de algum brebote: amendoim (que ele pronuncia “amédóim”), canetas, ou brinquedo mala made in China. O mais mala de que consigo lembrar foi um jacaré que rebolava e cantava a Macareña. Este papo todo foi pra lembrar que sextou, ou seja, é dia de beber em casa, que os bares serão tomados pelos amadores.
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