Ultimamente se tem falado tanto na Academia Brasileira de Letras, com poucos se lembrando de como a ABL, por várias vezes, foi servil às ditaduras, com generais e políticos, nulidades literárias, assumindo cadeiras naquela casa. O melhor exemplo foi a entrada do ditador Getúlio Vargas na imortalidade em 1941. Transcrevo um texto da coluna Movimento Literário da revista Carioca (do grupo A Noite, de Irineu Marinho), de uma subserviência que dispensa comentários:
“Para ocupar a cadeira de Alcântara Machado na Academia Brasileira de Letras, o presidente Getúlio Vargas foi eleito por 33 votos, sem nenhuma cédula discrepante. Existe um voto em branco, vindo do estrangeiro e que, nem por isto, quebrou a expressiva unanimidade com que o nome do ilustre brasileiro foi sagrado para a mais alta corporação cultural do país.
Após o pleito, A Noite colheu diversas impressões de acadêmicos, todos satisfeitos com a entrada do Chefe da Nação para a academia. Eis alguma das impressões:
Cassiano Ricardo – Considero o dia de hoje um dia de festa para a inteligência e para a cultura brasileiras
Ministro Oliveira Viana – Acho que a escolha da academia está acima de qualquer crítica. O presidente já era, por si mesmo, pelo seu feitio, pela sua finura, sua inteligência, e espírito agudo, um acadêmico. A academia só pode se honrar em incorporar ao seu grêmio uma figura de relevo, não digo nacional, mas mundial.
Ribeiro Couto – A eleição do presidente Getúlio Vargas marca para nossa instituição um grande dia. O espontâneo e caloroso ambiente de entusiasmo, que notamos hoje aqui, traduz não só o alto apreço da academia por essa iminente figura de intelectual, mas o apreço dos intelectuais do Brasil inteiro, que nós representamos.
A obra de Getúlio Vargas assemelha-se a da maioria dos militares ou políticos que entraram para a ABL: compilação de discursos, textos para justificar sua ideologia e, claro, o livro do discurso pronunciado na solenidade de posse na academia.
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